Coluna de Mariana Benedito – Por onde anda a sua criança?


“A criança que nos habita sente nossas dores, inseguranças, medos”


 

Existe uma frase, que eu não sei de quem é a autoria, que diz assim: “O que você deixou de ser quando cresceu?”. E eu te pergunto, meu amado leitor, o que a criança que você foi deixou aí dentro? E pergunto mais uma coisa: você já parou para pensar que ela ainda mora aí dentro?

É, isso mesmo. A criança que fomos ainda nos habita e sempre vai nos habitar. E mais ainda, ela norteia, comanda, dá a direção de muitas coisas em nossa vida adulta. A criança que nos habita – nossa criança interior – carrega as marcas, crenças, registros de quem somos em nossa essência e é ela que sente as nossas dores, nossas inseguranças, nossos medos. Foi ela que recebeu as limitações, as repressões, os nãos profundamente necessários, mas a forma como nos foi apresentado é como a gente guarda – lembra da semana passada que conversamos sobre as interpretações?

Foi a nossa criança que, em algum momento, entendeu que algo nela estava errado e ela precisaria reparar isso para ser merecedora de amor. Foi a criança que nos habita que se sentiu inadequada, que achou que deveria ser diferente do que era para agradar, satisfazer e ter o afeto. É a nossa criança que grita por afeto e grita para ser ouvida, meu amado leitor.

E isso acontece com todo mundo na face deste planeta chamado Terra. Aprendemos a esconder ou fingir ou não olhar para o que sentimos, passamos a acreditar que o que sentimos não é legítimo e, por isso, não deve ser levado em consideração. Crescemos por fora, carcaça de adultos. Mas lá dentro, habitando o mais profundo de nosso ser, existe uma criança assustada, ferida, insegura, que se sente sozinha e não merecedora do amor, do cuidado e da atenção que tanto deseja.

Crescemos, carcaça de adultos. Passamos a buscar formas de preencher esse vazio, essa lacuna de afeto. Trabalho, relacionamentos não saudáveis, codependência, autossabotagem, sexo sem intimidade. Tudo reflexo da insegurança de nossa criança. Ela nos mostra, ela nos aponta onde dói.

Por onde anda a sua criança, meu amado leitor? O que ela está dizendo aos berros que você ainda não escutou com a devida atenção? E não, não é somente de dores que vive a nossa criança. É ela que nos dá a alegria, a leveza, a curiosidade, o querer descobrir e desbravar o novo. É nossa criança que nos mostra, também, a direção para seguir por um caminho mais divertido, movendo nossos olhos para admirar o céu, o sol, as flores; despertando nossa visão para a contemplação do que é bonito e nos encanta.

Converse com a criança que está aí dentro. Olhe nos olhos dela, pegue-a no colo e diga que ela está segura em seus braços, que ela merece todo amor do mundo e que você, adulto, vai cuidar dela com todo carinho e que ela pode confiar em você. Abrace a criança que você foi, meu querido e tão amado leitor, fazendo com que ela se sinta profundamente amada, porque é isso que ela é: amada em cada pedacinho, ela não precisa ser diferente para ter o seu amor.

Ouça o que ela tem a te dizer. Fique com ela.

E lembre-se: existe muito amor aqui para a gente.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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