COMENTANDO O PASSADO



Estamos no mês de julho, mês quando se comemora o aniversário da emancipação política de Itabuna, ocorrida a 28 de julho de 1910; lá se vão, portanto, 106 anos de muitas histórias, muito trabalho, muitas conquistas enfim, o caldeirão cultural, administrativo e político de uma comunidade.

Vamos, nas edições que precedem o 28 de julho, trazer à tona alguns fatos importantes, alguns pitorescos, que marcaram a vida da nossa cidade. Os nossos historiadores, como Adelindo Kfoury Silveira, José Dantas de Andrade, Manoel Bonfim Fogueira e tantos outros, já contaram como se formou o novo núcleo às margens do Cachoeira; as lutas para conseguir a emancipação; as brigas políticas locais; a contribuição inicial do sergipano, depois do sírio-libanês e dos imigrantes que para aqui vieram atraídos pela fama dos “frutos de ouro”.Os diversos trabalhos desses pesquisadores encontram-se à disposição do público para a leitura e pesquisa.

Neste primeiro comentário do mês de julho, abordaremos dois assuntos do passado, desconhecidos das novas gerações mas que ocorreram na cidade. O primeiro deles, é a estrada de ferro Ilhéus-Conquista, cuja primeira composição chegou a Itabuna, vinda de Ilhéus, no ano de 1912 e deu um grande  impulso à região pois ligava Ilhéus a Itabuna, Pirangi (hoje Itajuipe), a Água Preta (hoje Uruçuca) e a Poiri (hoje Aurelino Leal) possibilitando que as populações desses lugares e de outros adjacentes pudessem se deslocar pela ferrovia, quando o meio de transporte, até então, era utilizando cavalos, éguas, burros  e mulas. Pelas composições da estrada de ferro, produtos que vinham de outros Estados e do exterior, chegados ao porto de Ilhéus, alcançavam o interior e, deste, matérias primas, o cacau à frente, iam até o porto de Ilhéus para serem embarcados. Rio do Braço era o grande entroncamento ferroviário e algumas edificações da antiga estrada ainda lá se encontram, como que marcando um passado distante que não volta mais.

Aguardava-se a chegada do trem na estação local, onde hoje situa-se a FTC; o apito, sempre saudoso da locomotiva, apelidada de “Maria-fumaça”, anunciava a chegada e a saída da composição; parece que ainda  estou vendo Ferreira, antigo funcionário da empresa, postar-se na plataforma e apitar, para chamar a atenção de todos, dos passageiros ao maquinista, de que estava chegando a hora da partida.

A estrada de ferro Ilhéus-Conquista, que nunca passou além de Itabuna, existiu até 1966 e os mais velhos devem sentir, como eu, uma certa nostalgia, aos relembrar os momentos marcantes daquele meio de transporte  que, sem dúvida alguma, teve uma grande importância no desenvolvimento deste pedaço da região cacaueira.

Outro fato, este meramente hilariante, refere-se à condução da boiada até o matadouro local que ocupava uma área onde hoje ergue-se o IMEAM; algumas vezes na semana, a boiada, que vinha dos sertões, conduzida pelos boiadeiros e auxiliares, chegava pela Bananeira, passava pelo Berilo, rua da Jaqueira e, no centro da cidade, por uma depressão que margeava o Cachoeira, ganhando a rua do Zinco até chegar ao destino, o matadouro.

Vez por outra, uma rês mais arisca, desgarrava-se do rebanho e invadia o centro da cidade, passando pelo jardim da Praça Olinto Leone, então o principal ponto de encontro da juventude itabunense, provocando uma grande correria, com as lojas e demais estabelecimentos comerciais fechando as portas até que um boiadeiro, ou vaqueiro, mais audaz, conseguia laçar o animal e conduzi-lo de volta ao redil. E isso ocorreu até os anos sessenta e, certamente, muitos ainda vivos, presenciaram esse fato que ficou gravado na nossa história.

João Otavio Macedo.