Desça do Olimpo!


“não vivenciamos a história do outro para apontar de que maneira deve seguir a sua vida”


Senta aqui, pega na minha mão e presta atenção, porque Mariana também é história e cultura. Brincadeiras à parte, vou contextualizar o título que encabeça a nossa coluna desta semana. Repare, o Monte Olimpo, segundo a mitologia grega, era o monte mais alto da Grécia e onde os deuses viviam; eles ficavam lá de cima, do topo das paradas de sucesso acompanhando tudo que se passava cá na terra dos reles mortais.

Pois bem, meu amado leitor, o fato curioso é quando nós, reles mortais, nos colocamos na posição de deuses, moradores e habitantes de Olimpo, para acompanhar, apontar, julgar e dizer o que os nossos pares deveriam ou não fazer com suas próprias vidas. Quando a gente se coloca numa posição de superioridade e acha que tem capacidade para ditar normas e diretrizes. Quando a gente acha que tem conhecimento, experiência e vivência suficiente para poder opinar na vida de outra pessoa, como se fôssemos o Mestre dos Magos que sabe tudo e tem todas as respostas.

Aí, meu amado ser que me lê neste momento do outro lado destas linhas, quando a gente se coloca nesta posição de superioridade, o que nos resta é, de fato, descer do Olimpo.

Descer do Olimpo significa entender que nós não temos o direito, a audácia de querer ditar para os outros de que forma eles devem ou não agir; nós não vivenciamos a história, as dores, os medos do outro para apontar de que maneira ele deve seguir a sua vida. Nós não somos melhores que ninguém, nós não calçamos os sapatos de outro para entender onde é que o calo dele aperta.

Acreditar que habita o Olimpo vem, na maioria esmagadora das vezes, acompanhado de arrogância e de achar que é maior do que de fato se é. Mas, um aspecto interessante que permeia neste campo quando a gente fantasia que pode salvar o outro. Que o nosso amor é maior, mais intenso, mais verdadeiro do que qualquer um já sentido pelo outro e que, por isso, somos especiais e com capacidades sobre-humanas de salvá-lo. Lamento te decepcionar, meu caro leitor, mas nós não podemos salvar ninguém. E, mais uma vez, é preciso descer do Olimpo com essa errônea ideia; a gente vive e se relaciona de igual para igual.

A chave do sucesso aqui é ocupar o nosso tempo com as nossas próprias questões. Buscar curar e salvar a nós mesmos. Todos nós temos vazios internos e a grande tarefa que a gente tem nessa vida é buscar integrar esses espaços, se fazendo presente para sentir e acolher tudo que vem e tudo que somos. Quando a gente negligencia olhar e cuidar para esses vazios, dores e faltas, passamos a preencher o nosso tempo com a vida alheia para não olhar para estes espaços, para não sentir e para não se confrontar com a dor.

Enquanto mantemos o nosso tempo ocupado tentando resolver, apontar, ditar de que forma o outro deve viver, agir e se comportar, não precisamos investir tempo em resolver a nossa própria vida e olhar para os nossos próprios vazios.

Portanto, meu caro leitor, desce do Olimpo e compreenda que você não é especial nem muito menos um deus. Você é humano e plenamente imperfeito. Volte para o seu lugar.

 

– Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

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