DIREITA OU ESQUERDA?



Por Kiko de Assis

O principal ingrediente das discussões políticas nos dias de hoje é a dicotomia “direita” ou “esquerda”. O que vem a ser exatamente essa diferença e onde reina o radicalismo e o extremismo nas duas “vertentes” no universo ideológico da política? Em primeiro lugar devemos revisitar nossa história pra entender onde nasce a “direita” e como surge a “esquerda”. A direita, ou os direitistas, surgem na chagada das caravelas. A colonização do Brasil é feita sob o poder absoluto da coroa portuguesa, impondo sua cultura, religião e valores aos colonizados (leia-se: índios). Assim, a escravatura assina essa dicotomia com sangue e lágrimas. A casta branca, religiosa e capitalista decide sobre os rumos da política e das relações comerciais que a “nova” nação deverá seguir… Durante 500 anos desde a criação das capitanias hereditárias a supremacia branca de direita governou e “mandou” no Brasil. Agora, nem sempre quem governou, mandou. Para se ter uma vaga idéia e dar um salto no recorte histórico, nos idos dos anos 1950, em muitos locais os negros não podiam freqüentar os mesmos espaços dos “brancos”. Mesmo miscigenada a elite do Brasil era sectarista, racista e absolutista. Mas já não havia sido abolida a escravidão no país? Sim! Porém os escravizados foram renomeados e recolocados nas cozinhas da nova Casa Grande. Então, o perfil da direita centenária não mudou muito, apenas criou agremiações políticas, seguindo uma tendência mundial, para dar continuidade ao seu poderio social, econômico e religioso. O “modus operandi” são rigorosamente os mesmos… Tem exceções? Sim! Como em tudo. A direita moderna, aquela dos dias de hoje, passa por um problema sério de identidade. Carrega essas experiências todas no seu DNA mas não aceita a alcunha de conservadores no espelho histórico. São conservadores “modernos”, defendem a supremacia social, econômica e política (?). Claro que há no meio destes, os extremistas que são historicamente negacionistas, usam a religião como escudo, defendem o belicismo como solução à violência e se auto definem patriotas radicais. Embora estes sejam uma minoria, são muito barulhentos… Na outra ponta temos os “esquerdistas”, que via de regra, são a outra ponta desta mesma história. Ou seja, são os escravizados, os que derramaram sangue e lágrimas para mudar essa condição imposta a grande maioria do povo brasileiro. A pobreza no Brasil não nasce da esquerda. A desigualdade social não nasce na esquerda, pois, somente nos anos 2000 tiveram ascensão política no país. Então fica muito difícil falar com propriedade histórica destas diferenças. 500 anos de um modelo contra 20 anos de outro… O Brasil nunca foi socialista, comunista ou adotou qualquer um desses regimes experimentados no exterior. Sempre fomos uma nação manipulada pelas ondas vindas de fora e com interesses específicos, diante das riquezas do país e muito também, pela jovialidade da percepção política e em grande parte pela ingenuidade das “esquerdas”. A história pra ser contada com independência e isenção, precisa ser vivida por um período que denote sua eficácia ou seu fracasso. Até lá, é observarmos nossa caminhada na história, reavaliar nossa condição de “emergentes” e expurgar todo e qualquer radicalismo, para não cairmos na loucura da negação da ciência, no terraplanismo, no fanatismo e na minimização do bom caratismo… O desafio do Brasil é ser o Brasil!


Kiko de Assis – Publicitário e Produtor Cultural.