DOIS ESTADISTAS NA HISTÓRIA


João Otávio: “continuo acreditando que não temos tradição (...) para vigência do instituto da reeleição”


São poucas as pessoas que enveredam pelo mundo pantanoso da política e conseguem dela sair deixando, para as gerações futuras, exemplos edificantes de como proceder no trato da chamada “res publica”. É comum, em algumas rodas de discussão, querer jogar na mesma vala comum todos os políticos, como se todos fossem iguais, só pensando em dilapidar o erário público e sem se preocupar com o destino de uma população que confiou nas suas promessas, guardando, até o final do mandato, alguma esperança, por mais tênue que seja, de que o trabalho do político seja todo ele centrado no interesse do povo que o elegeu.

Conheço um pouco a história do nosso país e, desde os 10 anos ,que comecei a acompanhar, pelos meios de comunicação, principalmente pelos jornais e pelas mais importantes revistas do país, tudo o que acontecia no mundo da política; acompanhei todas as crises políticas que ocorreram dos anos cinquenta até o presente e, passado algum tempo, não tenho nenhum receio em avaliar, com as devidas deficiências que todos temos, a atuação de alguns desses candidatos a estadistas. Para mim, tivemos dois grandes estadistas, políticos que pensaram no futuro do país e muito fizeram para mudar situações nem sempre favoráveis. O primeiro foi Juscelino Kubitschek, não só o criador de Brasília e impulsionador das indústrias naval e automobilística, como o corajoso governante que rasgou o hinterland brasileiro que vivia adormecido há séculos. Juscelino consolidou a democracia e entregou ao sucessor um país bem diferente. O outro estadista, bem mais recente, Fernando Henrique Cardoso, de estilo bem diferente e sem a impetuosidade de JK, também mudou o país e, à frente de uma brilhante equipe de economistas e administradores, freou uma inflação que parecia indomável, já que vencera vários planos econômicos; essa feroz inflação, desconhecida da maioria dos nossos jovens, alcançou 2.567,46% ao ano durante o exercício de 1993. Político de estilo afável, tal como JK, sem arroubos autoritários, Fernando Henrique começa a ser reconhecido como um dos grandes estadistas da nossa história.

Foi esse Fernando Henrique Cardoso que compareceu, na noite do último 28 de setembro, no programa Roda Viva, da TV Cultura, submetendo-se às perguntas dos entrevistadores e dando uma aula de história. Perto de alcançar os 90 anos, mantém-se completamente lúcido e teve a humildade de reconhecer que cometeu o erro ao patrocinar que seus aliados, no congresso nacional, votassem a emenda constitucional que permitiu essa malfadada reeleição. Algumas vezes já escrevi sobre isso e continuo acreditando que não temos tradição, nem educação, para a vigência do instituto da reeleição, que motiva várias infrações por parte dos candidatos.

Durante o programa, o entrevistado discorreu sobre o Brasil e o mundo, mostrando amplo conhecimento e não deixando de enfatizar a liberdade de imprensa e a democracia; para ele, segurança pública não é de esquerda nem de direita; disse que o ajuste econômico é difícil num país complexo como o nosso, mas que o nosso Brasil está bem melhor de que quando Ele era menino.

Seria interessante que a nossa juventude, principalmente a representada por aqueles que já têm o direito ao voto e vão comparecer às urnas em novembro próximo para eleger prefeitos e vereadores, tomassem conhecimento da vida desses dois estadistas e o muito que fizeram pelo desenvolvimento , pela democracia e pela paz, não somente no nosso fabuloso Brasil como colaboradores da ordem internacional.