História em primeira pessoa



Mariana Benedito


Quando a gente lê, ouve, escreve ou conta uma história, a primeira coisa que ela precisa ter é um narrador. O sujeito que está contando, que está observando, que está passando sua visão. Aquele que descreve como as coisas acontecem, como as cenas se constroem, as ações dos personagens e suas consequências. Identificar quem faz a narrativa é primordial em uma história. E pode mudar completamente o rumo dela, meu amado leitor.
Uma história contada em terceira pessoa tem um efeito; ela descreve o cenário, os personagens, vê as cenas de fora, temos a sensação de sermos expectadores. Uma história contada em primeira pessoa é completamente diferente. O personagem se coloca no enredo, a gente consegue acompanhar seus pensamentos, emoções, quais passos ele pretende dar e a forma como ele lida com as consequências deles. Numa história contada em primeira pessoa, o personagem assume suas ações, assume a responsabilidade.
E onde eu quero chegar com tudo isso, você pode está aí se perguntando, não é mesmo? Pois bem, meu amado ser que me lê aí do outro lado, a sua história está sendo contada como? Você tem contado a sua história, a sua vida em primeira ou em terceira pessoa?
Contar a nossa história em terceira pessoa é colocar nas circunstâncias, do mundo, na vida, nos outros as razões pelas quais você não caminhou aos passos que gostaria. É ir caminhando sem se saber onde quer chegar, o que quer alcançar, o que é essencial e o que é um propósito para você. É responsabilizar Deus e o mundo pelos seus infortúnios e não sair do lugar. “Sim, Mari, mas eu perdi meus pais, minha casa, meu emprego e não tenho mais ninguém nessa vida!” É realmente uma situação das mais desesperadoras, mas é o que existe agora. Esta é a sua realidade a partir de agora. O que você fará com ela?
Contar a sua história em primeira pessoa é assumir a tarefa de fazer o melhor que puder com o que se tem agora, com o que já nos foi dado, com as ferramentas que já foram adquiridas. É assumir a responsabilidade de cuidar da própria vida, entendendo que a dureza faz parte do jogo. As dificuldades, dores e sofrimentos sempre vão existir e, volta e meia, irão nos visitar; mas o que faremos depois? Óbvio que um momento de pausa, de medo, de respiro, de hesitação é necessário também neste processo. Mas e depois? É a atitude que a gente tem depois que dita a narrativa da nossa vida, meu amado.

Viver é um risco constante. E amadurecer é pagar o preço disso. Narrar a nossa história em primeira pessoa é assumir o controle do barco – naquilo que nos cabe – e parar com as acusações sob efeito kamikaze, atirando para todos os lados as culpas dos porquês sua vida não é como você gostaria que fosse. Repara que contrassenso! Você coloca na mão de outra pessoa a responsabilidade pela sua vida. A vida que é só sua!
Assumir a sua vida como sua e você como personagem principal dela, ator ativo e não só expectador passivo, é entender que a gente não controla ou dita o que vai acontecer com a gente; mas o que fazer com tudo isso, a postura e atitude que teremos, isso a gente pode ditar. E é aí que mora toda a diferença.
Quando a gente escolhe contar a nossa história em primeira pessoa – sim, é uma escolha – assumimos as possibilidades em nossa vida. Escolhemos ser leais, escolhemos ser bons profissionais, escolhemos ter caráter, escolhemos ter integridade, escolhemos ter relações mais saudáveis. Escolhemos o caminho que vamos percorrer e damos os passos necessários. Um por vez.
Mas é preciso fazer uma escolha, meu querido leitor.
Como você está contando sua história?


Mariana Benedito – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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Instagram: @maribenedito