Homossexual morre após ter corpo queimado por causa de uma bicicleta



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Fernando teve 80% do corpo queimado (Foto: WhatsApp)

Por Simone Nascimento

 

Homofobia e vingança, por motivo banal. Duas hipóteses levantadas, inicialmente, pela polícia, que investiga a morte de um homossexual em Itabuna. Fernando Almeida Oliveira tinha 51 anos e foi surpreendido na tarde da última quarta-feira (04) por um homem que jogou gasolina no corpo dele e acendeu um fósforo.

O ataque frio e covarde aconteceu na Avenida Manoel Chaves, próximo a um bar, nas imediações da Vila Olímpica, e foi testemunhado por muitas pessoas. Fernando teve 80% do corpo queimado. As áreas mais atingidas foram as nádegas e o órgão genital.

Esse detalhe acende a suspeita de uma atitude homofóbica. A polícia, que já ouviu várias testemunhas, tem o nome do suspeito, que seria o dono da bicicleta usada por Fernando na tarde do crime. Era comum a vítima tomar o veículo emprestado, mas nesse dia teria demorado mais do que o habitual, desencadeando, assim, a ira do criminoso.

No ato extremo de ingenuidade, Fernando, no momento em que foi molhado pela gasolina, chegou a dizer: “vai me jogar água suja, é?”, até ver o próprio corpo em chamas. O fogo foi apagado pelos próprios populares, que a tudo assistiram, sem, contudo, conseguir impedir tal atrocidade.

Fernando foi socorrido para o hospital de Base com vida, morrendo na manhã de quinta-feira (05), após não resistir aos ferimentos. Até o fechamento dessa matéria, o acusado não havia sido preso. O nome não foi divulgado pela polícia.

 

Revolta nas redes sociais

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Populares chegaram a socorrer o homem, que morava numa invasão próximo ao Jardim Primavera

A morte do homossexual provocou revolta e indignação entre os itabunenses, repercutindo muito nas redes sociais. Fernando era tido com uma pessoa pacata e trabalhadora. “Ele vivia aqui em minha rua. Fazia pequenos serviços –cuidar de retirar o mato em volta da casa, ajudar a lavar e repor as telhas da área de casa, levar entulho a um local apropriado me pedia água/rango sempre. Dizia que meus filhos eram engraçados, que adorava os meninos porque eles respeitavam as pessoas. Estou sem saber contar para os meninos”, disse a cantora Brisa Aziz, no Facebook.

Ao Diário Bahia, a advogada Jurema Cintra, assessora jurídica do Grupo Humanus e defensora dos Direitos Humanos, disse que também ficou chocada com o bárbaro crime. “As informações da polícia não revelam se se trata de um crime homofóbico ou não. Mas com certeza foi um crime de intolerância, por motivo torpe e com requintes de crueldade. Somados a outros homicídios violentos, vemos que os discursos e as práticas de ódio nos levam à barbárie. Tudo que evoluímos do ponto de vista civilizatório queimou junto com aquela pessoa. Um homem, negro, gay, em situação de rua, ele estava imerso em uma série de vulnerabilidades e, para alguns, a vida de um homem assim vale menos que a de outros e, por isso, queimar e dar-lhe fim se torna uma ação corriqueira no imaginário desses assassinos”, desabafou a advogada.

Com essa morte, Itabuna contabiliza o 3º homicídio de janeiro de 2017.

 

Atualizada às 18h36

A Delegacia de Homicídios de Itabuna identificou o assassino de Fernando Almeida. Ele é Renato Bispo dos Santos, de 41 anos, e está foragido homicídio.

Segundo o delegado Marlos Macedo, o crime foi mesmo devido a uma discussão por causa de uma bicicleta emprestada à vítima. A polícia descarta a possibilidade de um crime ligado a homofobia.