JOSIAS GOMES E A SUCESSÃO DE SALVADOR


Nada justifica o "já ganhou", opina o articulista Marco Wense


 

Tem toda razão o deputado federal licenciado Josias Gomes (PT) quando diz que “é preciso desfazer o clima de invencibilidade de Neto nas eleições municipais de Salvador”, obviamente se referindo a disputa pelo cobiçado comando do Palácio Thomé de Souza.

Acerta também os correligionários mais lúcidos do prefeiturável Bruno Reis (DEM) na opinião de que o “já ganhou” deve ser engavetado, dando assim um chega pra lá nos brunistas que dão a vitória do vice-prefeito como favas contadas, 2+2=4.

ACM Neto, alcaide soteropolitano, presidente nacional do Partido do Democratas, autoridade maior do demismo, fez o que deveria ser feito. Agiu rapidamente, sem titubear na escolha. Como não bastasse, articulou o apoio de 14 legendas em torno da pré-candidatura de Bruno. Mas nada justifica o “já ganhou”.

Para animar a base aliada, que anda cabisbaixa, sem enxergar nenhuma perspectiva de melhora, Josias, que é secretário estadual de Desenvolvimento Rural, cita três pontos : 1) número de quadros competentes que podem assumir a liderança deste pleito. 2) o desejo de mudança. 3) as realizações executadas pelo PT em Salvador.

Em relação ao ponto 1, o PT tem que reconhecer que não há nenhuma opção do partido com estofo político-eleitoral para enfrentar o adversário principal, sem dúvida Bruno Reis. O problema é o lulopetismo, que dificulta o apoio do PT a um postulante de outra agremiação partidária da base aliada, como, só para ficar em dois exemplos, Bacelar pelo Podemos e Lídice da Mata (PSB).

O item 3 é o argumento mais sólido. Não tem como negar que o governador Rui Costa foi bom para Salvador. O morador mais ilustre do Palácio de Ondina, que não consegue disfarçar seu descontentamento com o PT, mais especificamente com a cúpula nacional do partido, disputa com ACM Neto o troféu de quem fez mais pela cidade.

E o ponto 2, o desejo de mudança? Segundo Josias, a população “cansou das gestões democratas”. Ora, não é o que as pesquisas vêm mostrando. Se a legislação eleitoral permitisse à re-reeleição, dificilmente ACM Neto não conquistaria o terceiro mandato consecutivo, quiça logo no primeiro round.

Se o eleitorado quer mudar, se realmente cansou das gestões do DEM, o mesmo pode se dizer do PT no governo da Bahia. Não à toa que o senador Otto Alencar (PSD) e o próprio ACM Neto vão disputar a sucessão de Rui Costa na eleição de 2022.

A linha de pensamento de Josias nos leva a concluir que ele não acredita na eleição de Jaques Wagner para o governo da Bahia no pleito de 2022. O senador já governou o Estado por duas vezes.

Josias Gomes. Foto: arquivo/Diário Bahia

Se a base aliada continuar sonolenta, a possibilidade de Bruno Reis liquidar a fatura logo no primeiro turno fica cada vez mais viva.