Livre…



Já ergui o “chicote” das minhas “verdades” muitas vezes, contra meus debatedores. E, outras vezes, brandi o látego cortante das minhas ideias nas costas daqueles que discordavam das minhas palavras (hoje eu sei que não eram novas as minhas ideias e tampouco eram minhas as palavras que eu defendia arduamente). Naquele tempo, entretanto, quando se tratava dos meus posicionamentos políticos, cheguei a acreditar que o açoite das “minhas palavras” de “esquerda” domariam meus opositores ou os afugentariam, o que nos dois casos eu considerava como uma grande vitória.

Eu só não me dava conta de três coisinhas básicas, essenciais: primeiro, o “chicote” que estalava nas costas alheias, ia forte, mas voltaria ainda mais forte, ou melhor: o ricochete atingiria minha cara, minha língua e “minhas ideias”; segundo, a experiência de vida conta e conta muito na hora de manejar o “chicote”, pois é preciso saber usá-lo, para saber fazer, caso se pretenda alcançar algum objetivo; terceiro, o “chicote” que eu usava com aparente competência, habilidade e “verdade” era manipulado por alguém muito mais “esperto” do que eu podia supor.

No passado, defendi “meus argumentos” como se eles fossem meus de fato. E ainda pior: os defendi como se fossem a mais pura e cristalina “verdade”. Grande e lamentável engano! Hoje, ainda a respeito dos meus posicionamentos políticos, me dizem que sou de “direita” e que uso o “chicote” das “minhas palavras” para açoitar aqueles que discordam do que digo. E me dizem mais ainda: que os meus posicionamentos de “direita” são tentativas de domar meus opositores ou afugentá-los! Pode?

Querem, ainda, mesmo agora com a experiência que penso ter adquirido, que eu use minhas palavras de acordo com as conveniências que cada um dos grupos interessados defende. Não o farei! E digo isso a par de que, essencialmente, não permito mais que me digam o que eu tenho de fazer. Bem como não permito que façam de mim um instrumento de propagação daquilo que, verdadeiramente, mais interessa aos outros do que a mim mesmo!

E tem mais: não existe essa coisa que os “intelectuais” (de um lado ou de outro) chamam de “esquerda” e/ou de “direita”. O que existe mesmo é o quanto nós podemos ser impactados por essas ideias, o quanto acreditamos nelas, e, principalmente, o quanto deixamos de acreditar.

Pense. Reflita. Pondere. Você sobreviveria a si mesmo se fosse livre? Você entenderia os eventos da vida se sentisse, pensasse e agisse a partir de suas próprias percepções? Você seria capaz de reconhecer seus “aliados” ou seus “opositores” sem as máscaras que eles usam? Então, esses são alguns dos desafios que cada um de nós, no seu devido tempo, precisa (se quiser) enfrentar para buscar suas próprias e essenciais inteligências.

A vida, ou pelo menos o que eu aprendi com ela, (ou penso que aprendi, até agora) é um caminho sempre de volta ao que somos na essência. A vida talvez seja um renovado autoconhecimento. E por isso, quando afinal deixei para trás aquilo tudo que me “ensinaram”, sem desmerecer os “ensinamentos” porque eles fizeram parte da minha autodescoberta, da minha caminhada, do meu encontro de volta ao que eu sempre senti valer a pena – o amor, a liberdade e a felicidade –, só então é que eu me senti em paz.

Sentir-se feliz, amado e livre é o maior desafio que trouxemos para a vida. Ainda que só consigamos vivê-los por alguns instantes. Mas não se esqueça: a vida é um instante.

Cláudio Zumaeta – Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus – BA)  Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador – BA). Especialista em História do Brasil (UESC, Ilhéus – BA). Mestrando em História Regional e Local (UNEB Campus V, Santo Antonio de Jesus). Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).