Mariana Benedito: Entender não te tira do lugar


“Falar sobre a nossa dor é ponto inicial para aceitá-la e ver o que ela tem a nos ensinar”


O primeiro passo na caminhada do amadurecimento emocional é a gente parar de apenas suportar a nossa dor – e consequentemente viver fugindo de sentir – e passar a acolhê-la. A nossa ferida nos dá oportunidades valiosas de crescimento pessoal, meu amado leitor. O sofrimento, a dor, o vazio, quando integrados, nos possibilitam um ganho de força de vida e de amor transformadores.

E, para que a gente possa passar desse estágio de fingir que o sofrimento não existe, precisamos entender o que nos machuca, que peso é esse que a gente carrega no peito. Olhar de frente para o negócio. Dar nome aos bois, sabe? Parar de ignorar esse sinal sonoro ensurdecedor em seu coração. Falar sobre a nossa dor é ponto inicial para que a gente possa aceitá-la e ver o que ela tem a nos ensinar.

Pois bem, meu amado ser de amor que me lê aí do outro lado. Agora vamos atentar para uma questão importante. Muito importante! Respire, beba um golinho de água e foca aqui. Nesse processo de entendimento, acolhimento e percepção da nossa ferida, a gente precisa ter muito cuidado com o movimento de entender os porquês, as razões, as origens, sem de fato tratar a nossa ferida.

É muito comum – e eu falo com conhecimento de causa, porque eu fiz isso – a gente transformar o entender tudo numa fuga, ficar o tempo todo no racional para não agir. O processo de entendimento da nossa dor acaba virando uma desculpa para a gente não mergulhar na dor e, assim, não passar de fase no joguinho. Compreende?

A grande questão aqui, meu amado leitor, é se você está realmente querendo tratar sua ferida. Você está realmente querendo uma solução? Você está realmente disposto a parar com o ciclo de reclamações que nada muda e realizar as mudanças de fato necessárias? Mesmo?

Começar a agir. Começar a sentir. Começar a se lançar na vida sem a garantia de nada, sabe? Desistir da falsa ideia de controle, desistir da segurança imaginária, abrir mão do orgulho e da arrogância que impedem que sua vulnerabilidade venha à tona e se mostre humano. Largar de uma vez por todas esse ideal de perfeição que você insiste em perseguir. Você não é especial, você é uma pessoa como outra qualquer. Ser humaninho normal.

Carregar tudo isso cansa. E só quando a gente não aguenta mais carregar esses pesos que a gente desiste de carregá-los. Desiste de só querer entender e passa a, realmente, querer curar.

Entender não vai te tirar do lugar, meu tão querido leitor. Lamento te informar.

Entender é o primeiro passo. Um grande primeiro passo.

Mas é preciso mais. É preciso saber se a gente realmente está disposto a descobrir um novo caminho.

E ir.

 

* Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

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