Mariana Benedito: O caminhar da saúde emocional


“saber lidar com nossos sentimentos é saber o que fazer quando afloram e tiram a gente do prumo”


 

Estamos no meio das Olimpíadas e uma das grandes estrelas, medalhistas, destaques mundiais da ginástica artística desistiu de competir nas finais individual e por equipe para cuidar de sua saúde mental. É, meu amado leitor. Simone Biles carregava uma expectativa sobre-humana nessas Olimpíadas. Todos os olhos do mundo em cima dela, aguardando o show impecável que ela faria e esperando nada menos do que medalhas de ouro. Mas, depois de cometer um erro e tirar uma nota abaixo dos seus padrões em uma das provas, a ginasta norte-americana de 24 anos pediu para sair e cuidar de sua saúde emocional.

Todos nós carregamos expectativas das pessoas ao nosso redor. Esperam de nós posturas, atitudes, comportamentos, padrões, ações; assim como a gente também espera do outro posturas, comportamentos, ações… a grande questão, meu querido leitor, é que essas expectativas não devem se tornar pesos. A gente não precisa carregar o peso do mundo nas costas. A gente não precisa lidar com todos os problemas do mundo sozinho. A gente não precisa suprir todas as expectativas que esperam de nós.

E é aqui que entra a nossa conversa sobre saúde mental. Embora ainda seja impactante para a grande maioria das pessoas ver uma atleta de altíssima performance e com condições físicas perfeitas para estar no alto do pódio desistir de tudo isso por não estar com a cabeça e emocional 100%, nos últimos tempos a gente pode observar um aumento magnífico e significativo de pessoas conversando, debatendo, buscando, se informando sobre a importância e necessidade de cuidar das emoções, sentimentos, pensamentos, sensações.

Somos seres humanos. Temos ciclos, emoções que a gente não sabe lidar, sentimentos que a gente não sabe descrever, passamos por situações que despertam na gente angústia, medo, peso, aperto no peito, embrulho no estômago, vontade de chorar, vontade de sair correndo, vontade de gritar, vontade de reagir. A gente passa muito tempo se comparando a máquinas e esquece que somos bem mais complexos e cheios de nuances. E, repare, meu amado ser, que mesmo se comparando às máquinas, elas também precisam de manutenção. E por que nós não precisaríamos?

Existe ainda um grande preconceito envolvendo a saúde mental, a terapia, os processos psicoterapêuticos. A terapia não é, de maneira alguma, exclusiva para quem possui algum tipo de transtorno psíquico. Muito pelo contrário! A terapia é uma ferramenta importantíssima para todo mundo porque propicia que a gente identifique, olhe com cuidado e aprenda a lidar com nossas dores, faltas, anseios a partir de um outro ponto de vista, de uma outra perspectiva que, na grande maioria das vezes, não conseguimos enxergar sozinhos.

Nós não somos imbatíveis! Não precisamos dar conta de tudo. Não precisamos enfrentar sozinhos essa imensidão que nós somos. Não precisamos ficar brigando com o que a gente sente, alimentando uma verdadeira bola de neve que, mais cedo ou mais tarde, vai passar devastando tudo numa verdadeira avalanche.

A saúde da nossa mente é tão fundamental quanto a saúde do nosso corpo, até mesmo porque quando algo não vai bem dentro de nossa cabeça, tudo se reflete no mundo externo, afetando diretamente o modo como sentimos a vida, a forma como nos relacionamos conosco e com as pessoas que nos cercam. Saúde mental nos propicia a capacidade de reconhecer, entender, avaliar e lidar com os nossos sentimentos. E saber lidar com os nossos sentimentos é, nada mais nada menos, saber o que fazer com eles quando eles afloram e tiram a gente do prumo e das estribeiras.

A psicoterapia é para todo mundo que se dispõe a aprender e conhecer mais sobre quem é. É um mergulho profundo no autoconhecimento, muitas vezes não tão confortável porque passamos tanto tempo nos protegendo de acessar algumas dores e eventos que possam ter nos marcado e machucado, mas que é libertador, justamente por nos permitir olhar com outros olhos essas mesmas dores.

Todo mundo pode realizar esta jornada interna, meu querido ser que me lê aí do outro lado, a grande chave é se entregar ao processo, se permitir, buscar ajuda para aliviar estes pesos. É entender que está diante de um profissional que se qualificou para ouvir, auxiliar, caminhar junto e fazer com que esta caminhada seja trilhada da melhor maneira possível.