Meu amado leitor, quantas vezes você já se pegou querendo resultados rápidos, atalhos fáceis, recompensas imediatas? E, olha, é altamente compreensível. O mundo lá fora parece moldado justamente para nos convencer de que pouco esforço é sinônimo de inteligência, que quem sofre está na contramão da vida, que o caminho fácil é sempre o melhor. Mas… será mesmo?
E aqui, já adianto, não estou fazendo uma ode ao sacrifício, tampouco supervalorizando o sofrimento. Muito pelo contrário.
Há muito tempo, li uma frase de Santa Teresa d’Ávila que me marcou profundamente e que, até hoje, carrego como um lema de vida: “É justo que muito custe o que muito vale.”
E como isso faz sentido! Porque o que tem valor de verdade não vem de graça. Requer tempo, requer esforço, requer enfrentamento, requer dedicação. E não é porque a caminhada está pesada que o destino não seja belo. Ao contrário: muitas vezes, é exatamente o peso da bagagem que nos prepara para receber — com maturidade — aquilo que tanto desejamos. É esse mesmo peso que nos capacita a sustentar, com firmeza, as nossas conquistas.
Mas repare, meu amado leitor, o que a gente mais vê por aí é justamente o contrário. Uma busca desenfreada por prazeres imediatos, distrações rápidas, recompensas vazias. É o “curtir agora” a qualquer custo. É o “temos pouco tempo pra viver”. É o famoso “viver como se não houvesse amanhã”.
Só que a conta chega. Mais cedo ou mais tarde, ela vem. E, quando chega, quase sempre se apresenta em forma de vazio, frustração e falta de sentido.
A vida real — aquela que é construída e não apenas consumida — exige constância, comprometimento, presença, entrega. E isso, meu amado, dá trabalho. Dá medo. Muitas vezes, dá vontade de desistir.
Há momentos em que a incerteza bate forte e você já não sabe se está mesmo no caminho certo. Mas é justamente aí que mora o ouro. É nesse ponto em que tudo parece difícil demais, exigente demais, que você está mais perto de algo verdadeiramente valioso.
Se tudo fosse fácil, não teria profundidade — e muito menos estabilidade. Se tudo viesse de bandeja, não haveria espaço para moldarmos o caráter com as virtudes necessárias: persistência, disciplina, temperança.
O crescimento não nasce no conforto. Ele nasce na entrega. Na escolha diária de fazer o que precisa ser feito — mesmo quando dá preguiça, mesmo quando ninguém aplaude, mesmo quando tudo grita para que a gente desista.
Sabe aquele relacionamento estável, maduro, equilibrado? Aquele corpo saudável, bonito? Aquele projeto que tanto desejamos colocar em ação? Nenhum deles se sustenta sem esforço, sem comprometimento, sem paciência, sem escuta, sem abertura, sem vulnerabilidade. É preciso atravessar o deserto para merecer o oásis, meu Deus do céu!
Então, da próxima vez que a estrada parecer longa demais, pergunte a si mesmo: isso que eu desejo, vale o que está custando? Se a resposta for sim, siga. Um passo de cada vez. Mas siga. Porque é justo que muito custe o que muito vale. E o valor real da vida não se mede pela velocidade, pela instantaneidade ou pela sensação superficial de recompensa — mas sim pela profundidade e pelas bases sólidas em que tudo é construído.
Mariana Benedito é Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito