NADA SUBSTITUI UMA BOA MÃE


“nem o homem mais poderoso da Terra poderia substituir a mãe daquele filhote”


Heribaldo de Assis*

Fui resgatá-lo:  havia caído do segundo andar de uma casa. Era um filhote de passarinho – perceptível era que não podia voar. Mas o que houve: asa quebrada? Estava ferido? Ou, simplesmente, ainda não sabia voar? Retirei-me da janela, abri o portão, atravessei a rua e fui na direção daquele filhote de passarinho para tentar resgatá-lo. Aproximei-me…não esboçou muita reação: simplesmente tentava bater as pequenas asas sem sucesso. Sim: não podia voar – precisava de amparo, de ajuda. Peguei-o delicadamente temendo machucá-lo, levei-o para casa dentro de uma pequena caixa que eu levara justamente para acondicioná-lo com segurança. Entrei em casa com a pequena caixa contendo o filhote penudo – era preciso uma caixa maior: uma caixa de sapatos… Coloquei-o na caixa de sapatos – agora era preciso garantir a sua alimentação até que ele ficasse forte e pudesse voar, retornar para a Natureza e, quem sabe, reencontrar a sua mãe.

Fui comprar alpiste – trouxe para casa, coloquei na caixa de sapatos mas o filhote de passarinho não comeu…Coloquei um punhado de alpiste em uma mão e com a outra segurei o filhote e coloquei o bico dele na direção do punhado de alpiste – não surtiu efeito: não queria alimentar-se. Então peguei um chumaço de algodão, embebi na água e espremi o chumaço sobre seu pequeno bico – ao menos ele bebia as gotículas de água que caiam sobre seu pequeno bico. No dia seguinte, pedi informações: aconselharam-me arroz – peguei arroz cozido e comecei a tentar colocar em seu pequeno bico – era uma tentativa nada fácil: meu dedo era imenso em relação ao bico daquele pequeno filhote. Poucas vezes consegui abri-lo e colocar um grão de arroz cozido para o filhote deglutir.

Senti-me um inútil e pensei: nem mesmo o homem mais poderoso da Terra poderia substituir a mãe daquele filhote – para ela seria fácil abrir aquele pequeno bico e nele inserir o alimento adequado. Então notei que o filhote de passarinho parecia estar doente: a cabeça dele entortou, girou – tentei aprumá-lo, consegui…Mas os olhos do pequeno passarinho foram se fechando, pedi para que ele não morresse mas minhas súplicas não foram atendidas: estava morrendo. Fechou os olhos e tornou-se apenas um pequenino corpo penudo em minhas mãos. Mais uma vez senti-me um fracasso: era o segundo filhote de passarinho que tentei salvar e não consegui – ele morreu, não consegui salvá-lo, não consegui curá-lo para devolvê-lo à Natureza e à sua mãe – uma mãe que nem o homem mais rico da Terra poderia substituir.

Agora o filhote de passarinho morto está na caixa de sapatos – rodeado por alpistes: queria enterrá-lo, queria que a Terra o acolhesse – a mesma Terra que ajudou a gerá-lo. Mais uma vez sinto-me um nada: meu Amor por aquele pequeno filhote de nada serviu: não pude salvá-lo, não pude devolvê-lo à Natureza e, muito menos, à sua mãe. A vida no planeta Terra é tão frágil como aquele passarinho – uma sagrada  vida que constantemente sofre, padece e morre…Mas até quando vai ser tristemente assim? Como posso louvar um Deus que não ama a vida que nem eu e que não a protege contra o sofrimento, contra a doença, a fome e a morte?! Minhas lágrimas não são apenas pela morte daquele passarinho mas também pelo meu próprio fracasso, pela minha própria inutilidade, pela minha própria impotência e por ver meu Amor pelos animais e pela sagrada vida ser vencido, mais uma vez, pela morte!

*Escritor, filósofo, poeta, compositor, redator-publicitário, roteirista e Licenciado em Letras pela UESC.E-mail: [email protected]