O CONSTRANGIMENTO DOS COMPANHEIROS


Wense faz duras críticas ao ex-presidente, bem como a alguns segmentos do PT


A preocupação com o ex-presidente Lula vem tomando corpo nos bastidores do Partido dos Trabalhadores, mais especificamente no segmento denominado de “lulopetismo”.

E o que é o lulopetismo? É a ala da legenda que tem o companheiro-mor como um “Deus”, o “Deus Lula”. É a que mais parece com bolsonarismo de raiz, caracterizado pelo radicalismo e intransigência. Se para o lulopetismo, Luiz Inácio Lula da Silva é um “Deus”. Para o bolsonarismo, Jair Messias Bolsonaro é um “mito”.

Voltando a Lula, muitos companheiros achando que o “Deus Lula” é merecedor de um bom descanso. Os mais ingratos e impiedosos, em conversas reservadas, chegam a dizer que o ex-comandante do Palácio do Planalto está caducando, disperso, brigando com ele mesmo, sem entender o atual momento da política brasileira.

Tudo começou quando Lula deixou a cadeia, depois de longos e angustiantes 580 dias. Solto, vendo o sol novamente redondo, não demorou muito para fazer uma infeliz declaração, assentada em uma soberba inerente ao lulopetismo: “o PT não é partido de apoiar, e sim de receber apoio”.

Mais recentemente, o ex-presidente, quando questionado sobre o manifesto de partidos pela democracia, defesa da vida e da liberdade, tendo os movimentos Basta, Juntos e Somos 70% na mesma causa, disse não ter mais idade para ser “Maria vai com as outras”. Vale lembrar que a defesa do imprescindível Estado democrático de direito conta com o apoio de centenas de juristas, artistas, lideranças políticas e acadêmicas, entidades representativas da sociedade civil, enfim, muitos segmentos que representam vários setores das entidades de classe.

Foi um pega-pega no staff do PT, principalmente entre os petistas que comungam com a opinião de que já passou da hora de Lula dar um tempo e fazer uma urgente reflexão, sob pena da legenda amargurar péssimos resultados na sucessão municipal, que tende a ser transferida, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, para a primeira quinzena de novembro, com o segundo turno no início de dezembro em cidades com mais de 200 mil eleitores.

Algum companheiro sincero, que não faça parte do puxa-saquismo, da nojenta bajulação, precisa dizer a Lula que não cabe mais declarações de soberba, que o PT não tem mais condições de se achar superior. Esse tempo já passou. Se não calçar as sandálias da humildade vai sucumbir, enterrado sob 13 palmos de terra.

Ainda sobre os movimentos pró-democracia, Lula declarou que não vai aceitar “a perspectiva de anulação do PT”. Apelando novamente para o ar de superioridade, finalizou dizendo que “o PT continua sendo o maior partido de esquerda da América Latina. É o PT, partidos menores e a direita”, afirmou o “Deus Lula”.

Ora, quem causa, quem é o principal responsável pelo isolamento do PT é o próprio Lula, que continua na ingenuidade e na teimosia de achar que o petismo deve ser o protagonista da oposição ao governo Bolsonaro e da defesa da democracia.

O PT hoje só conta com a companhia do PCdoB e do PSOL. Sequer foi convidado para integrar o movimento “Janelas Pela Democracia – Impeachment Já”, formado pelo PDT, PSB, Rede, PV e Cidadania.

Se o isolamento social para combater o novo coronavírus fosse maior que o do PT, com certeza não teríamos milhares de mortos.