O fim do temismo



michel temer* Marco Wense

 

Depois desse escândalo envolvendo o presidente Michel Temer e a JBS, só tem um caminho para salvar a República: eleições diretas já.

Os fatos que atingem o chefe do Executivo, a autoridade maior do país, são graves e justificam um pedido de impeachment.

Mas o que irrita mais o cidadão-eleitor-contribuinte é o cinismo dos políticos. Eles agem como se o povo brasileiro fosse um ninguém desprovido de raciocínio.

Temer, por exemplo, diz que o pagamento a Eduardo Cunha é um “ato de solidariedade” de Joesley Batista, proprietário da marca JBS, já que a família do coitadinho passa por dificuldades financeiras.

Um governo tampão, oriundo de articulações nos porões dos Poderes da República, não terá legitimidade para conduzir o destino do país.

A saída, e não tenho a menor dúvida, é o afastamento de Michel Temer e o povo elegendo diretamente o seu substituto.

Wagner ao modo Ciro

O ex-governador Jaques Wagner, cotado para ser o candidato do PT à presidência da República em uma eventual inelegibilidade de Lula, resolveu seguir o jeito de fazer política de Ciro Gomes (PDT).

Ciro, pré-candidato ao Palácio do Planalto na sucessão de 2018, é desses que não costumam recuar diante do que tem vontade de dizer e, muito menos, levar desaforo para casa.

Lá de Londres, participando de um evento internacional, Wagner disse que “vice só servia para tramar”, se referindo a Michel Temer, sem dúvida o protagonista-mor do impeachment de Dilma Rousseff.

O problema é que o senador Otto Alencar (PSD) e João Leão (PP), respectivamente o vice do então governador Wagner e o atual de Rui Costa, se incomodaram com a declaração do petista.

“Nunca tramei contra Wagner”, respondeu Otto, sem conseguir esconder sua irritação com o ex-ministro da Casa Civil do segundo governo Dilma.

Leão foi quem mais ficou chateado, tiririca da vida, a ponto de dizer que “o pessoal do PT está querendo romper”. Virou um verdadeiro “leão”.

Nos bastidores, longe dos holofotes e do povão de Deus, o comentário é que o governador Rui Costa não teria gostado da declaração do seu criador.

A oposição, liderada pelo prefeito soteropolitano ACM Neto (DEM), comemorou o Wagner ao modo Ciro. Torce para que o “cirismo” continue vivo nas próximas declarações do ex-governador.

O PMDB e Fernando Gomes                       

O vereador Antônio Cavalcante, o único eleito pelo PMDB, quer mais espaço para o partido no governo Fernando Gomes.

Diz, em tom de cobrança, que “quando o PMDB foi apoiar o então candidato Fernando Gomes, ficou combinado que o partido teria duas secretarias e uma fundação ou três secretarias”.

A declaração foi dada no programa Resenha da Cidade, conduzido pelo radialista Roberto de Souza, e ratificada no blog Políticos do Sul da Bahia, do jornalista João Matheus.

O edil descarta um eventual rompimento com o governo municipal, mas faz uma ameaça quando diz que “acordos são para serem cumpridos”.

A reivindicação de Cavalcante é mais pessoal do que partidária, já que o PMDB não se manifestou oficialmente sobre o assunto.

Como o peemedebismo de Itabuna está destroçado e desprovido de qualquer identidade, Cavalcante ganha força diante do Executivo.

Uma grande piada

João Doria, prefeito tucano de São Paulo, obviamente do PSDB, pode ser agraciado com o título de cidadão honorário de Salvador.

O vereador soteropolitano Felipe Lucas (PMDB), ligado aos irmãos Vieira Lima – deputado federal Lúcio e o ex-ministro Geddel –, é o protagonista da honraria.

Que coisa, hein! Dorinha como cidadão honorário de Salvador. Por todos os santos e orixás, o que o alcaide fez para merecer essa homenagem? A resposta não pode ser outra e com todas as letras maiúsculas: NADA.

Se o despautério for concretizado, o presidenciável chefe do Executivo paulistano passa a ser conterrâneo da terra natal.

E aí não tenho como não me lembrar de Otávio Mangabeira, o primeiro governador da Bahia eleito após os anos da Era Vargas: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedentes”.

Além de ser um absurdo, diria que essa “honraria” é uma grande piada.

Disputa por cargos

É natural que a agremiação partidária que participou da campanha do candidato vitorioso ocupe espaços na administração pública.

Como também é normal que o tratamento dado a uma legenda seja diferente em relação a outro partido que não teve papel de destaque no processo eleitoral.

O problema é quando as legendas começam a se engalfinhar por cargos, aí a briga é na base do vale tudo, do salve-se quem puder.

Esse pega-pega não é necessariamente entre partidos. Pode acontecer entre uma legenda e um grupo político que não tenha vinculação partidária.

No governo que antecedeu esse de Fernando Gomes, a briga era entre o PCdoB e a turma do controlador Otto Matos, o curinga do então prefeito Claudevane Leite.

No segundo governo de Geraldo Simões, o confronto se dava entre o PSDB e o PCdoB. É bom lembrar que o petista foi eleito por uma coligação de nove partidos.

Pois é. Se juntar para ganhar uma eleição é uma coisa, mas na hora de governar é um Deus nos acuda.