O RIO PRECISA DE MAIS PÃO E MENOS CIRCO



Selem Rachid Asmar*

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Claro que é interessante até para não enjoar ou cansar a visão conhecer um País onde a dualidade ou diversidade é a marca, como o nosso “dois brasis”.

A Amazônia e São Paulo nossa porção cabocla e a incorporação de traços modernos da cultura Européia ou Americana do Norte, em convivência sem grandes conflitos.

Mas, em nosso território, de repente passou a ser dominadora a parte desagradável, criticável, perigosa, numa mistura contaminada pela podridão, pela doença, pelo banditismo de gravata, do diploma da Faculdade fácil, ou associado a ele.

Violência até nas roças, Zica dolorosa e deformadora, a descrença primitiva, a vida cara sem muita explicação que não a seca; definitivamente o Brasil não é um bom lugar pra se viver.

Como sempre soube capitanear a moda, a exposição, o lucro, o Rio de Janeiro coloca uma máscara em seus defeitos e promove os Jogos Olímpicos, com riscos muito prováveis de fazer do visitante, testemunha da época das cavernas e seus costumes brucutus.

A importação da prática jurídica da “delação premiada” mostra, todavia, os escândalos, a podridão política, o corpo fétido, onde repousa o grande achado festivo das competições, apesar da quebradeira.

Certamente muitos turistas temerosos deixarão de vir para apreciar o exótico, o esdrúxulo, pois seus traços e o fenótipo denunciarão o prato denso e fácil ao banditismo carioca.

Sim! A bandidagem esfrega as mãos ansiosa, doidona pela oportunidade rara de faturamento e uso da violência através das gangues, grupos de menores, quadrilhas sem grades para serem guardadas.

Nem só de carnaval e políticos enroladíssimos vive o Rio. Também de pele avermelhada de teimosos (e corajosos) estrangeiros.

Afinal, o Rio não é a cidade maravilhosa? Os camelôs não precisam sobreviver? A crise não é mundial?

Lá se vão os tempos antigos retratados na marchinha de carnaval, na primeira metade da década de 50 “… Rio de Janeiro, cidade que nos seduz, de dia falta água, de noite falta luz”.

Hoje, terreiro ideal da bandidagem, nos falta a garantia de ir lá, e lá não deixar o que nos é mais valioso e caro! A nossa própria vida.

 

  • Selem Rachid Asmar é doutor em Sociologia pela Universidade de Paris e Diretor–Presidente da Selem Sondagem de Opinião.