Oduque chega a 97 anos com marca firme na história de Itabuna


Atuação marcante como empresário, político e voz em entidades sociais


José Oduque Teixeira conquistou espaço na política e na economia de Itabuna (Foto: Vanusa de Jesus/Arquivo Diário Bahia)

O empresário José Oduque Teixeira, verdadeira lenda urbana em Itabuna e dono de um modo de vida bastante peculiar, completou ontem (18) seus 97 anos de vida. Ele tem passado meses recluso em casa, no bairro Góes Calmon, como medida de proteção contra o coronavírus.

Ainda no aniversário de 90 anos, o Diário Bahia foi até o escritório de onde ele administrava os negócios e pôde bater um papo sobre política, perspectivas e razões que lhe movem a trajetória.

Oduque foi prefeito da cidade (entre 1973 e 1977), além de até hoje participar ativamente de entidades como ACI (Associação Comercial de Itabuna), Lions e Rotary Club. Relembre abaixo a entrevista.

 

Apesar de ser um homem de posses, o senhor tem um carro simples e parece ter hábitos também simples. Com o quê gasta dinheiro?

Olha, eu tenho como fundamento na minha vida olhar o meu semelhante, sobretudo, os meus familiares. Sou filho de uma família pobre. Meu pai casou-se com minha mãe e tiveram sete, oito filhos que foram, naturalmente, criados sem nenhuma instrução. Eu fui mais feliz, porque minha tia me trouxe aqui para o sul quando eu tinha 16 anos e procurei a estrada mais capaz de prosseguir. Eu perguntei como seria administrado; não, vou me administrar, vou estudar e trabalhar. E assim fiz. Portanto, não tenho condições de alimentar a vida financeira de ninguém, nem olho esse aspecto. Devido à minha simplicidade familiar, não sou homem de ter helicóptero, ter avião próprio, ter automóvel de luxo. Eu tenho um automóvel tirado aqui na antiga firma Oduque Veículos, que eu uso, é muito bom e me serve; tenho também duas caminhonetes para transporte de pequenos materiais de construção. O meu ‘Del Rey’, ou seja, o meu ‘lata-velha’ resolve bem os meus trabalhos. E eu não tenho nenhum desejo, nenhuma vontade de ter coisas de luxo.

A chamada ostentação não é uma vontade sua…

Não tomo um copo de cerveja, de uísque, não fumo etc e tal. Tenho muito cuidado com a vida. Gosto de amar, ser amado. A vida deve ser seguida com respeitabilidade generalizada aos bens do próximo, não quero nada ilegalmente, nada daquilo que possa magoar meus interesses nem os interesses de ninguém.

Podemos dizer que o senhor gasta seu dinheiro tal como uma pessoa que vive com um salário mínimo, suprindo apenas as necessidades básicas?

Não, é o seguinte. Eu gasto aquilo que se torna necessário para as despesas de alimentação, saúde, segurança e aquelas ajudas que são controladas, naturalmente, pelo sistema: Maçonaria, Rotary, Lions etc. Os componentes dessas instituições dão ajuda oficialmente e elas, então, fazem a distribuição. Eu não nego de dar minhas contribuições fora dessas instituições, mas com a devida cautela. Não quero me arruinar economicamente, fazendo aquilo que não é possível. Não sou homem de estar viajando para o exterior, fazendo passeios especiais, fico mais aqui, nas beiradas das terras itabunenses.

O senhor diria que sente algum prazer em guardar dinheiro, acumular, poupar? Não é guardar, poupar, acumular. Acho que todos nós temos o dever de ter um controle mínimo daquilo que é necessário para as despesas do cotidiano e para as despesas do futuro. Naturalmente, sentir as possíveis necessidades com a doença inesperada. Não é acumular exageradamente, [mas] fazer aquilo que é necessário. Sempre procurei exercer uma atividade na área de construção; eu gosto muito de construir, não gosto de ver o dinheiro parado. Porque o dinheiro parado não traduz progresso. Então, se você emprega em empresas, construções etc, você está contribuindo para o desenvolvimento daquela terra que lhe abençoou, lhe abraçou.

Olhando para trás, para o menino pobre que veio de Sergipe, o senhor pode dizer, com todas as letras: “Eu sou um homem rico”?

Eu não quero dizer que sou um homem rico; eu sou um homem que exerci e continuo exercendo, por força dos meus conhecimentos, do meu trabalho, procurei me aprofundar administrativamente na vida pública. Eu me preparei para ser prefeito, fui um prefeito que não decepcionou a ninguém e tudo isso eu faço com o objetivo de engrandecer a terra. Porque o dinheiro só tem um sentido: a multiplicação das riquezas e do bem-estar humano. Isso eu tenho feito e procurei fazer; não acumular sem sentido nenhum. Agora, você pode manter uma reserva, visando aos seus objetivos ocupacionais para aquele dinheiro.

E que objetivos são esses?

O objetivo é de construção, de fundação eventual de uma indústria, uma coisa que possa ser fundada e você esteja realmente preparado. Estando preparado, você pode competir com outros que queiram lutar junto a você.

Está dando um exemplo ou o senhor tem o plano de abrir mesmo uma indústria em Itabuna?

Eu tenho na mente o conceito de indústria. Quem trouxe a Nestlé para Itabuna, quando prefeito, fui eu. Lutei, fiz várias viagens e foi desapropriada a terra – 60 e poucas hectares – e veio a Nestlé. Ela se instalou e está aí até hoje. Depois surgiram outras indústrias, pena que não foi estimulado o desenvolvimento do Centro Industrial de Itabuna. Mas a tendência é a cidade, embora tendo pouco mais de 900 quilômetros quadrados, crescer mais. Hoje podemos dizer que é ponto de referência para Saúde, Educação, isso não é à toa.

Vemos que o senhor é um homem com cabelos bem pintados, está com um terno todo arrumadinho … Diria que gasta dinheiro com a vaidade?

Eu pouco gasto. Tenho as roupas necessárias para ir numa solenidade, receber essas figuras como vocês, que representam o jornal, a voz da região. Sou ligado à área empresarial da imprensa, tive um jornal, uma rádio, que vendi e estou recebendo o dinheiro aos poucos, e bato palmas para quem consegue manter esse sistema jornalístico com equilíbrio aqui na terra.

Há mais de dez anos, o senhor concedeu uma entrevista polêmica ao então Diário do Sul, falando sobre sexo. Eu lhe pergunto: Oduque consegue manter a mesma rotina daquela época?

Essa questão do sexo está muito na moda. As televisões de grande porte possuem números para orientar as pessoas com relação ao que é a sexualidade. Mas eu sempre fui um homem cuidadoso com esse aspecto. Levo tudo na brincadeira, mas sou um homem normal.

E o que é ser um homem normal hoje, sexualmente falando?

É ter uma vida normal, com saúde e ter uma sexualidade compatível com a idade. Vai chegando a um ponto que o homem vai perdendo a sexualidade por força do tempo. Eu não estou fora desse caminho; [aliás], todos nós, até a mulher vai perdendo o desejo, a sensibilidade. Isso não me conduz a uma fúria para querer sexo com A ou B, aproveitar da minha posição, em absoluto.

O senhor é um homem que veio de baixo, financeiramente falando, tornou-se um empresário bem-sucedido, já foi prefeito, enfim, enveredou por vários campos. Chegando aos 90 anos, com o quê ainda sonha?

Meu maior desejo é ver essa terra se agigantar. Por que se agigantar? Porque foi aqui que eu fui acolhido, aos 16 anos de idade. Ninguém é dono de bens materiais. Você nasce, vai se criar, chegando à idade, vai para debaixo da terra, aquilo que você adquiriu deixa para outros administrarem e assim vai. Então, minha maior vontade é ver essa terra crescer, crescer e crescer. Gostaria de contribuir pra isso.