Qual história você está contando?


Mariana Benedito*: “Será mesmo que toda história precisa ser contada com essa autopiedade paralisante?”


 

Eis a pergunta.

Qual história sobre si mesmo você está contando? Qual história sobre sua vida você conta? Que face e imagem você deseja passar?

Repare, meu amado leitor, tome um gole aí de sua água – se hidrate, você é uma plantinha complexa – e acompanhe meu raciocínio. A hipocrisia possui duas faces: a primeira é aquela que todo mundo conhece, aquela máscara que se coloca para falsear ou disfarçar os defeitos, é quando as pessoas querem fingir o que não são, querendo parecer mais do que são, de fato. Conhecidíssima! E a segunda face é o movimento de sempre se diminuir. A pessoa fala de si, se apresenta, se mostra sempre como vítima, coitadinha, que carrega todos os sofrimentos do mundo e não é capaz de tomar conta da própria vida porque tudo e todos conspiram contra ela e ela não teve as oportunidades que “merecia”.

Aí, meu amado, a gente traz para a mesa da conversa uma coisa chamada ganho secundário. Tudo aquilo que nos aprisiona, que nos detém, que nos limita, que nos bloqueia apresenta, inconscientemente, um ganho para que nos mantenhamos em tal situação. Uma pessoa que faz uso desta segunda faceta da hipocrisia tem muita chance de obter o ganho secundário despertando a piedade dos outros e ter a vida cuidada por eles sem assumir responsabilidade. É, convenhamos, até bem cômodo!

Só que, se a gente for observar nossa vida com os pezinhos realmente firmados na realidade, no que é, no que foi de fato, observamos que não somos o ímã gigante de todos os males do mundo. Você consegue dimensionar isso, meu querido ser que está aí do outro lado agora? Repare bem, a natureza da vida humana é faltar coisas mesmo! Vai faltar o carinho do pai no momento que você queria, vai faltar o olhar amoroso da mãe e sobrar críticas em outro, vai faltar o dinheiro para fazer e comprar todas as coisas que você queria, porque os pais estavam ralando para pagar aluguel, prestação da casa própria e as contas; as coisas não foram como a gente quis e nem serão perfeitamente como a gente quer. E daí?

Por que contar sua história somente com o viés do que faltou? Você conta o quanto de coisas recebeu e não aproveitou? As oportunidades de crescimento que você desperdiçou? Pois é, não é mesmo? Será mesmo que toda história precisa ser contada com essa autopiedade paralisante? Uma coisa completamente diferente é ter e viver uma biografia inspiradora, motivada; outra é ficar se escondendo da vida atrás de lamúrias e lamentações.

E, olhe, meu amado leitor, isso não dá certo, não se chega a lugar nenhum. Quando você conta sua história partindo somente do que te falta e do que há de ruim, a visão fica cada vez mais condicionada a só enxergar o ruim mesmo e a bola de neve vai crescendo e você vai se afundando mais. Uma pessoa ou outra simpatiza pelo que é contado e tenta resgatar você, te dando meios de suprir o que você fala que falta, mas, sinceramente? Você não vai receber ou se movimentar em direção a tal porque, para isso, teria que tirar a máscara da vítima e perderia o ganho secundário. Percebe como funciona?

E, sendo bem sincera, é como diz naquela música de soul: todo mundo ama um vencedor. É gostoso estar perto de quem inspira confiança, que enfrenta a vida, que paga o preço, entende?

Qual a história que você está contando de si mesmo? Se firmar na lamentação, no todo mundo me deve tudo só vai transformar você em uma pessoa sem substância, sem força, vazia.

Comece contando a sua história direito! Vá lá, conquista, dá a volta nessa tendência interior à hipocrisia que só te tira a força. Se instala na realidade e vai!

 

* Psicanalista, terapeuta e especialista em Marketing.

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