Vai correr pra onde?


Mariana Benedito*: “Por que ser compreensivo com os outros e tão carrasco com você?”


 

Olhe, meu amado leitor, pode parecer mais seguro, mais fácil, mais prático, até mesmo muito mais racional lidar com o sofrimento fugindo dele, ignorando-o, fingindo que ele não existe, buscando ocupar a cabeça para não sentir e mergulhar nesse oceano de dores, emoções e sensações. Logicamente que o mundo não vai parar de girar para que você encare, identifique, trate e cure suas mazelas e o que te paralisa, afinal a Terra não gira em torno de você e isso Nicolau Copérnico já descobriu há bastante tempo, não é mesmo?

Mas, meu caro, é lógico que tentar suportar o sofrimento nos tira do eixo, do prumo, da estabilidade. E aqui entra um adendo muito importante neste processo: é possível enxergar luz nessa escuridão. Vamos conversar melhor sobre isso… dê um gole aí na sua água, afinal está fazendo um calor da moléstia, e acompanhe o raciocínio.

Existe uma frase de Rumi, um poeta sufi persa do século XIII, que eu, particularmente, gosto muito e já trouxe várias citações dele nesta coluna, que diz o seguinte: a ferida é o lugar por onde a luz entra em você. Trocando em miúdos, meu amado ser de luz, é preciso ter atenção à sua dor, porque é nela que está o seu tesouro!

Você já deve ter percebido na sua vida, na vida das pessoas que te cercam que fugir não leva a lugar nenhum. Não tem para onde correr; para onde quer que você vá, tudo que está aí dentro de você vai junto, não adianta! É somente um olhar amoroso, compassivo, acolhedor com as nossas próprias dores que tem a capacidade de encontrar verdadeiros tesouros no sofrimento.

É como eu sempre digo por aí, é preciso tirar o chicotinho do lombo e passar a ter um diálogo com mais terno com a gente mesmo. Por que ser compreensivo, sensível, tolerante, indulgente com os outros e ser tão carrasco e algoz com você? Por que manter esse juiz interno a postos para apontar, julgar e condenar o tempo todo?

Uma grande oportunidade de crescimento pessoal, profissional, humanitário se esconde na sua dor, e é preciso acolhê-la, não somente suportá-la ou tentar com todas as forças fugir dela. Mergulhar de cabeça nessa onda pode parecer assustador, mas eu garanto a você que se manter nesse movimento de gato e rato com a sua essência é muito pior, acredite.

E ser quem você é, a sua essência, aprender e enxergar um novo caminho na dor e no medo e no trauma é muito precioso; e o que é precioso não pode ser ignorado!

Então, meu amado, se algo te machuca, está na hora de ver o que é. Se você possui algum tipo de peso em seu peito, o momento não é mais de ficar ignorando tudo isso se entupindo de fugas, muito menos ficar chorando as pitangas em cima da questão. Diferentes dores nos trazem diferentes aprendizados.

É hora de começar a olhar para dentro. Começar a olhar para sua dor é o primeiro passo para aceitá-la, ver o que ela tem a ensinar, enxergar a luz que essa ferida carrega.

Você vai continuar correndo para onde? Até quando?

 

* Psicanalista, terapeuta e especialista em Marketing

  • Instagram: @maribenedito