Viva a falta do amor!


Mariana Benedito*: a gente não aprendeu a se relacionar. (...) ninguém ganhou uma cartilha e manual de como é que se faz”


 

Maluco esse título, não é? Repare. Leia de novo. Quem em sã consciência vai comemorar a falta do amor, a falta da entrega, a falta das relações? Mas, infelizmente, é essa ideia que vem sendo propagada por este mundão afora, meu amado leitor.

Circulam há bastante tempo, nas redes sociais, postagens “orientando” que a gente não se apaixone por ficantes, insinuando que o erro do jovem é se entregar, se afeiçoar, querer construir uma relação. É isso mesmo! E aí, meu amado ser de luz e de amor que me lê aí do outro lado, se a gente não se apaixonar, se encantar, se afeiçoar pelo outro, como é que as relações vão ser iniciadas? Como é que a gente vai se relacionar?

O fato é, meu docinho de leite, que se relacionar é um negócio babadeiro mesmo. É desafiador, coloca nossos medos e traumas e dores bem gigantes na nossa cara e causa calafrio em muita gente. A questão é que a gente não aprendeu a se relacionar. É, isso não foi ensinado e passado para a gente, ninguém ganhou uma cartilha e manual de como é que se faz. E aí passamos pela vida amorosa batendo cabeça, trocando os pés pelas mãos e fazendo um monte de bobagem. Qual o resultado disso? Relações disfuncionais, abusivas, cheias de cobrança, de medo, de briga e de tensão. E, indo ainda mais além na consequência, após a gente passar por todos esses relacionamentos tortuosos, que nos deixaram marcas e cicatrizes, a gente acabou internalizando que se relacionar é ruim. É penoso. Passamos a acreditar que estar em um relacionamento nos aprisiona, tira a nossa liberdade, dá dor de cabeça e noites em claro.

Você se identifica com tudo isso, meu caro? Agora repare, tudo isso, junto e misturado, faz com que a gente tenha pavor de se apaixonar, de iniciar uma relação, de construir algo sólido e duradouro e verdadeiro. A partir desse ponto, passamos a nos relacionar baseados nos jogos de poder, no quem se apega menos, no quem esnoba e some mais. Você consegue perceber que está tudo pelo avesso?

O que todo mundo busca nessa vida é o amor. Não adianta dizer que não, meu amado. O que todos nós desejamos é construir um amor seguro para chamar de casa. O que nos impede de viver tudo isso é o medo. Medo de doer de novo – já que a gente, por não saber se relacionar, se machucou um bocado, não é? Medo de se sentir rejeitado, abandonado, de parecer trouxa. Oi? Quando foi que demonstrar afeto, expor o que sente e o que deseja virou sinônimo de fraqueza?

Infelizmente virou. Mas, uma hora a gente cansa de disputar poder. Chega o momento que a gente cansa de ficar circulando de cama em cama, de boca em boca. Chega uma hora que o peito pede quietude e abrigo. E, meu amadíssimo leitor, é possível se relacionar de forma saudável! É possível viver uma relação baseada na confiança, na verdade, na entrega, na segurança de mostrar as vulnerabilidades. Sim, é possível! É plenamente possível.

Mas, veja bem, é preciso pagar o preço disso tudo. E pagar o preço passa por assumir o movimento interno de parar de fugir. De olhar esse medo de se relacionar de frente e decidir seguir adiante. Decidir arriscar, decidir se jogar, decidir viver. Entender que a gente precisa do outro, sim! A gente precisa do outro para crescer, para trocar e para equilibrar a equação que é se relacionar.

E vale super a pena!

Acredite! Não adianta querer levantar paredes sem alicerçar a base. Se relacionar, se apaixonar, se permitir amar é uma decisão! É a melhor escolha que a gente pode fazer.

 

* Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

E-mail: [email protected]