A SOCIEDADE DOS ABSURDOS



Por Egnaldo França

 

Num conturbado contexto político em que vive o povo brasileiro atualmente, onde se discute com ênfase a crise dos valores éticos e humanos, a Justiça Federal surpreende com a decisão de conceder liminar favorável a psicólogos atenderem pacientes nas terapias de reorientação sexual, conhecidas como “cura gay”. Assim, o debate que deveria permear o respeito à diversidade sexual, afetiva, religiosa e de gênero se resume no retrocesso da absurda patologização da relação homoafetiva como uma doença com tratamento.

Não seria estranho se o Historiador Eric Robsbawm (falecido em 2012) dissertasse sobre a sociedade brasileira no século XX e XXI e a intitulasse como a sociedade dos absurdos. No decorrer desta época, vivenciamos avanços na implementação de políticas que valorizam os Direitos Humanos, na mesma medida em que presenciamos o desrespeito destas legislações e convenções sociais. A garantia e efetivação destas políticas ainda se constitui enquanto um desafio a ser vencido. O estado brasileiro, que se diz laico, aprova suas leis à revelia dos dogmas religiosos cristãos ocidentais, ferindo a quem não comunga com esta doutrinação específica.

Ao mesmo tempo em que o Supremo Tribunal Federal discute o ensino de religião nos ambientes escolares por força da “bancada evangélica”, a liminar favorável à “cura gay” representa uma afronta aos direitos humanos, na medida em que contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS), que não classifica relações homoafetivas enquanto patologia.

O grande absurdo desta sociedade hipócrita é o não reconhecimento de que quem precisa de tratamento psicológico não são os homossexuais, as lésbicas, trans etc. e sim as mentes racistas, machistas, homofóbicas e corruptas, que distorcem a essência do povo brasileiro.

 

Egnaldo Ferreira França

Historiador, Pós-graduando em Gestão Cultural/ UESC, integrante do Coletivo de Entidades Negras de Itabuna, Conselho Municipal de Políticas Culturais, Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, fundador do Projeto Encantarte e Pré-Universitário para Afrodescendentes – PREAFRO.