COLUNA DE MARIANA BENEDITO – Mãe


“Sabemos onde está o nosso porto seguro e saímos para explorar o mar de possibilidades”


Próximo domingo é Dia das Mães, muito embora eu acredite plenamente que todo dia é dia. Mas, já que a data comemorativa está aí para a gente se ligar o quão especiais são estes divinos seres, proponho, meu amadíssimo leitor, que a gente busque uma reflexão um pouco mais profunda acerca da presença da mãe – ou da pessoa que exerça o papel de figura materna – para qualquer ser humano desse planeta.

O vínculo existente entre mãe e filho é verdadeiramente inigualável. Avalie que se trata muito além de “simplesmente” – como se isso fosse pouco – gerar outro ser, mas sim de uma real simbiose. Durante os nove meses de gestação, a mãe e o filho são uma pessoa só: o bebê se alimenta daquilo que a mãe se alimenta, o bebê sente as emoções que a mãe sente, o bebê é praticamente uma extensão da mãe durante a gravidez e isso se prolonga, naturalmente, durante os três primeiros meses após o parto. Tanto para a mãe quanto para o bebê é um processo de desligamento. A mãe vai internalizando que o bebê é um serzinho além dela, que não é seu apêndice, e o bebê também vai percebendo que ele e a mãe não são a mesma pessoa.

Mas, meu querido leitor, o ponto que quero chegar é que, por mais que as mães sejam capazes de coisas excepcionais e inimagináveis por conta de um filho, elas são pessoas naturalmente humanas. É isso mesmo. Uma das coisas que a maturidade me proporcionou foi o entendimento de que todos nós somos um e passamos pelas mesmas coisas, em graus e níveis e intensidades e momentos distintos. Antes de nos prover alimento, segurança, afeto, carinho, cuidado e um ambiente que nos possibilita o crescimento, as nossas mães são filhas que também tiveram carências, faltas, erros, culpas. As nossas mães também são mulheres que amaram, foram amadas, tiveram o coração partido, partiram outros corações. Foram crianças com sonhos, jovens com desafios que também não souberam como enfrentar e lidar.

Elas foram adiante. De forma imperfeita, diferente da forma que a gente idealiza. Temos a tendência de idealizar a figura de nossa mãe como uma mulher que não pode errar, que não pode se ver sem saber o que fazer, que não pode ficar triste. Nossas mães não são perfeitas e é assim que tem que ser! Está tudo certo. Quando começamos a enxergar a perfeita humanidade no outro, encontramos o caminho de volta para casa e também assumimos a responsabilidade pela nossa vida. Enquanto a gente coloca o ideal de perfeição, de extraordinariedade, de sempre ter uma solução e saber o que fazer nas nossas mães, a gente, inconscientemente, abre mão de ir adiante. E fica esperando. O tempo todo. Por tudo.

Tomar as rédeas de nossas vidas é estar em paz com nossa mãe. Ela fez e faz e sempre fará o melhor que puder e estiver ao seu alcance, que a gente nunca duvide disso. E fazer o melhor que a gente puder e estiver ao nosso alcance é seguir o legado que nossa mãe nos deixa. Percebe? Sabemos onde está o nosso porto seguro e saímos para explorar o mar de possibilidades, tomando a nossa própria rota, enfrentando os desafios e conquistando as alegrias. Quando a gente libera nossa mãe do padrão de perfeição, a gente também se libera dos padrões inalcançáveis e nos colocamos reais.

Seguimos em paz com nossa origem, não há mais porquê brigar com o princípio de tudo. E, repare, se não há razão para brigar com a origem, não há o que resistir e brigar e criar muros com o que está por vir.

Sigamos gratos pela mãe que temos. Hoje, amanhã, no dia das mães e sempre.

Imperfeita e, mesmo assim, extraordinária.

A minha, sem sombra de dúvidas, é.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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