A percepção que temos do tempo é que ele está passando muito rápido e, se ontem estávamos comemorando a passagem de mais um ano, mais do que depressa já nos encontramos na metade do ano e, muito em breve, já estaremos dando adeus ao atual. Não é bem isso o que ocorre no universo, mas é a sensação que temos dentro das normas estabelecidas pela civilização.
Mas deixemos o universo e os seus mistérios de lado, para falarmos do mês de junho e, principalmente, do nordeste e do povo nordestino, já que o atual mês engloba as comemorações de três santos muito queridos, Antônio, João e Pedro e toda a mística que os envolve. Estamos mergulhados nas festividades juninas, principalmente nos nove estados que constituem o nordeste brasileiro, atraindo as atenções de, praticamente, todo o Brasil, numa comunhão do religioso com o profano e onde encontramos as verdadeiras raízes do povo brasileiro.
As festividades juninas, que alguns chamam de joaninas, em alusão ao ápice da festa, o dia de São João, tiveram início com um cunho eminentemente religioso, trazido pelos habitantes da península ibérica que para aqui vieram, principalmente os portugueses. Até hoje encontramos a forte religiosidade do nordestino, apesar de algumas tentativas no sentido de acabar com ela que, felizmente, não foram adiante. A cada ano, mais se arraiga, no espírito daquela gente sofrida, a crença nos santos e a esperança de dias melhores, mesmo diante da inclemência da seca que destrói a sua cultura de subsistência e a constante falta de água, já que as chuvas não caem. Diante de tanto sofrimento, o sertanejo nordestino mantém o culto aos seus santos preferidos e, nas festas de São João, mesmo com toda a pobreza, não deixa de armar a sua fogueira, de fazer a canjica e o licor, não esquecendo os rojões, os foguetes e soltar os balões, que dão um colorido especial àquelas noites frias.
Com o passar dos anos e o crescimento das cidades nordestinas, os festejos foram aumentando até chegarmos aos dias presentes quando, em algumas localidades de Pernambuco, Paraíba e Sergipe, praticamente todo o mês de junho é tomado por diferentes eventos que marcam a evocação dos santos, adicionados por brincadeiras, cânticos, danças, criando uma atmosfera própria dessa época do ano. Os festejos juninos já estão inseridos no calendário turístico do Brasil, atraindo milhares de pessoas à procura de divertimento e a busca da rica gastronomia nordestina,voltada para esse período.
Uma rica produção musical já vem, também há alguns anos, enriquecendo o cancioneiro brasileiro, fazendo a fama e a fortuna de autores e intérpretes que têm o seu período áureo, justamente, neste mês de junho. Quando se fala em artista nordestino, o que primeiro vem à mente é Luiz Gonzaga que, em dezenas de composições de sua autoria ou em associação com outros, cantou tudo sobre o São João, desde as danças, as brincadeiras, as “comilanças”, as bebidas, as rezas. Talvez, a maior proeza de Luiz Gonzaga foi abrir para o resto do Brasil, pelas suas canções, tudo o que o nordeste tem.
Brasileiros de todos os rincões estão se deslocando para as principais cidades nordestinas que apresentam um São João de primeira e essa interação é muito proveitosa, pois torna mais conhecida essa rica história e folclore do nosso nordeste.