Coluna de Mariana Benedito – Precisamos falar sobre vulnerabilidade


“quando a gente se relaciona, o outro vira um espelho gigantesco posto à nossa frente e que nos obriga a olhar o nosso próprio reflexo e se enxergar”


 

Ao passo que somos seres sociais, necessitamos conviver e estar inseridos em um grupo, aprendemos e crescemos quando nos relacionamos; se abrir verdadeiramente e se mostrar de forma autêntica para o outro é, definitivamente, o nosso maior desafio neste planeta chamado Terra.

Já dizia Sri Prem Baba, um mestre espiritual brasileiro, em seu livro Amar e ser livre, que se a vida é uma escola, os relacionamentos são a sua universidade. Pois bem, meu caro leitor, o que acontece é o seguinte: quando a gente se relaciona – e em relações amorosas principalmente – a convivência faz com que aspectos emocionais, de personalidade, psicológicos passem a ser revelados. É a partir do contato com o outro que a gente vai observando, também, aspectos em nós que precisam ser reavaliados; é somente com a experiência e vivência que a gente ganha ferramentas e possibilidades de lidar com uma situação.

Se relacionar é compartilhar a vida com alguém que possui uma história diferente da nossa, que possui uma bagagem emocional diferente da nossa, que passou por experiências diferentes das nossas. E é desafiador justamente por se tratarem de duas pessoas que, embora tenham a mesma visão de mundo e mesmo objetivo, têm personalidades e jeitos de expressão diferentes. É muito fácil viver sozinho. É no contato com o outro que a gente se pega projetando e cobrando comportamentos que a gente deveria ter. É no contato com o outro que a gente percebe o quão intolerante, agressivo e intransigente pode ser. É no contato com o outro que a gente percebe o quanto tem de insegurança, de medo, de carência. É convivendo que a gente observa o quanto se esconde, quanto tempo passamos empurrando as coisas para frente; mas é dito e certo, meu caro leitor: quando a gente se relaciona, o outro vira um espelho gigantesco posto à nossa frente e que nos obriga a olhar o nosso próprio reflexo e se enxergar, verdadeiramente.

É e aí nesse meio que entra a vulnerabilidade. Quando pensamos no significado e sentido de ser vulnerável, vem a ideia de fragilidade, fraqueza ou alguma coisa que precisa ser fortemente evitada. O dicionário traz o significado de ser vulnerável como algo que é ferido, sujeito a ser atacado, derrotado, prejudicado, ofendido. Mas, amado ser que me lê aí do outro lado, ser vulnerável traz outra perspectiva, que é a disposição de expressar sentimentos de forma clara, verdadeira; a disposição de arriscar, de se expor, de tirar a armadura que passamos anos carregando e se abrir às experiências. Não é que a sensação de vulnerabilidade passe a ser confortável, mas ela deixa de ser um peso, de causar dor e sofrimento.

E um dos aspectos que estão diretamente ligados com a vulnerabilidade é a vergonha. A gente fala pouco sobre a vergonha, ela é silenciosa, vai corroendo por dentro. Diferente da culpa, que a gente tem mais facilidade em compartilhar, em colocar para fora, em expressar. Mas a vergonha não. A vergonha é trancada num armário a sete chaves para que ela nunca, nunquinha da silva, venha à luz. A vergonha impede de nos mostrarmos totalmente, é como se sempre existisse um pedacinho que precisa ser escondido, até de nós mesmos. É o constante julgamento nosso com a gente mesmo, que nos impossibilita de estabelecer conexões fortes e verdadeiras.

A vergonha nos leva ao isolamento e somente a partir do entendimento de que todos temos defeitos, partes que não são imaculadas, sombras, imperfeições é que vamos nos abrindo à intimidade conosco e com o outro. Quando expressamos quem somos sem o medo de ser julgado, avaliado, de não corresponder à expectativa, de não ser suficiente, mesmo sendo um tanto quanto desconfortável se confrontar e sentir tudo isso.

Não estamos sozinhos. É comum pensarmos que somos as piores pessoas da face deste planetão, como se fosse algo absurdo sentir o que sentimos, pensar o que pensamos ou desejar o que desejamos. Mas, olhe, somos humanos e pode ter certeza que o que você sente, pensa ou deseja outras pessoas também o fazem.

Vulnerabilidade é quando seu corpo, mente e coração estão abertos e dispostos a aceitar as emoções que surgem; é ficar com aquilo que vem à tona e se abrir às relações, fortalecendo-as.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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