Coluna de Mariana Benedito – Pare de pensar!


“A ansiedade aparece quando a gente se distancia de sentir, de vivenciar, de aproveitar, de se permitir”


                

Existe uma frase que circula neste mundão da internet, sem autoria verificada, que diz assim: “às vezes o pior lugar que você pode estar é na sua própria cabeça”. E é bem verdade, meu caro leitor. A nossa mente grita, e grita alto. E mente muito também. A gente cria os mais variados e inimagináveis cenários dentro da nossa cabeça sobre todas as situações da vida e, nesta mistura toda, colocamos fantasia, terror, medo e as mais trágicas consequências. Repare que a gente passa a sofrer por antecipação, como se tudo aquilo que foi imaginado já fosse verdade.

Todo esse movimento de super analisar tudo nos causa ansiedade e profunda infelicidade, porque passamos a viver rodeados de rigidez, insegurança, medo de errar, de falhar, de se expressar já antecipando a reação do outro ou o efeito que uma atitude pode ter.

Agora, repare bem uma coisa. Lógico que é muito importante a gente pensar em nossas ações, comportamentos, reações e refletir sobre os efeitos e reflexos que elas podem causar. O autoconhecimento faz a gente crescer, nos dá ferramentas cruciais para o nosso aperfeiçoamento e cria possibilidades de a gente tirar o piloto automático da vida – que tanto nos faz repetir padrões e aquela sensação de não saber como sair de um labirinto, mesmo já sentindo que precisamos sair dele – e assumir a condução, trazer para consciência os aspectos que nos limitam e condicionam, para que a gente possa mudar de rota.

O fato é, meu amado ser que me lê aí do outro lado, que existem momentos em nossa vida que é preciso desligar. Desconectar da mente. E aí você pode estar se questionando como que a gente vai parar de pensar? Que ideia maluca é essa? Pois eu te digo, meu caro, a gente para de pensar quando se conecta ao corpo. A ansiedade aparece quando a gente se distancia de sentir, de vivenciar, de aproveitar, de se permitir.

Estar no corpo. Estar aqui e agora. Viver o momento presente. Aproveitar a situação que está sendo posta à nossa frente. Semana passada esta coluna foi sobre vulnerabilidade. Sobre a importância de a gente expressar sentimentos, da disposição para arriscar, se expor e se abrir às experiências. Pois bem, estar presente no corpo é como se fosse um segundo passo para a vulnerabilidade. Um exemplo muito claro do quanto a gente habita a nossa cabeça e se distancia do sentir é quando estamos em um relacionamento amoroso – ou com possibilidades de entrar em um, é aí mesmo que a gente faz morada, de mala e cuia, na cabeça. Os momentos passados juntos com a pessoa que a gente gosta e está interessado podem ser maravilhosos. Mas a gente, mesmo estando ao lado da pessoa, com a oportunidade de viver aquele momento da forma mais incrível e completa possível, se distancia do aqui e do agora para entrar na mente e ficar pensando se vai ou não dar certo. Criando os mais variados cenários com a cabeça lá na frente. E, nisso tudo, a gente esquece que o futuro é construído com os passos que a gente dá no presente, no aqui, no agora.

A gente precisa viver o que já está aí, o que está diante de nossos olhos. Abrir os braços e abraçar com inteireza as oportunidades. O importante é a caminhada, o momento que se passa junto, o instante que estão conversando, o passeio de mãos dadas, o abraço que parece ninho, o beijo que faz a gente fechar os olhos e apenas sentir. É isso que importa. Se sentir bem neste momento é o que importa. Nada é para sempre, meu caro. O dia não fica dia para sempre, a noite não fica noite para sempre, a chuva não chove para sempre, o sol não ensolara para sempre. A nossa vida é feita de ciclos. E a gente só pode aproveitar o sol quando ele está brilhando. A gente só pode ver a luz das estrelas quando está de noite. É preciso estar presente. Sentir. Aproveitar cada situação.

Não existe aquela história de dar certo. O que é dar certo? Quanto tempo se mensura o dar certo? No momento em que estamos próximos a quem a gente gosta, já está dando certo! Para quê colocar a felicidade para depois, para o futuro, para daqui a cinquenta anos? Por que não aproveitar o agora, o aqui, o estar perto?

O eterno é feito de agoras.

Saia da sua cabeça.

Sinta.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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