Coluna de Mariana Benedito – Tudo tem um aprendizado


"Cá estamos com a recomendação para parar de correr. Para ficarmos o maior tempo possível dentro de nossas casas, de nossos lares. Internos e externos"


 

Estamos em época de pandemia mundial. Fala-se o tempo inteiro em coronavírus e todas as precauções, prevenções e cuidados que podemos e devemos ter. Cientistas buscam entender qual a origem do vírus, como ele funciona, quais as consequências e, principalmente, buscam remédios e vacinas para combatê-lo.

Fato é, meu querido leitor, por se tratar de uma nova variação de vírus, tudo é novo. Nossos corpos não estão preparados para o contato, não sabemos quais características o vírus carrega em ambientes tropicais, quais as possíveis mutações. Enfim, estamos tateando no escuro. E a única forma de evitar contágio e que o vírus se esparrame ainda mais pelo nosso país, o pedido é simples: que a gente evite aglomerações, contatos sociais e fique em casa.

Aí, meu caro, é que entra a nossa reflexão. Nós não estamos acostumados a ficar em casa. É, isso mesmo. A era que a gente está vivendo é a da informação, da rapidez, da instantaneidade, da alta performance, da alta produção, do consumo, da ostentação. Vivemos para fora. Correndo para chegar em algum lugar que nem mesmo a gente sabe qual é. Trabalhando dez, doze horas por dia – porque depois do WhatsApp, horário comercial virou lenda –, totalmente voltados ao sucesso profissional, à ascensão da carreira para termos cada vez mais dinheiro e menos tempo. Então está tudo uma loucura nesse mundo! Nós criamos esta loucura. Nós criamos esta correria.

Eu não sei você, amado ser que me lê neste exato momento, mas eu acredito plenamente que o mundo, o universo possui uma inteligência maior; a Terra é sábia, possui uma sabedoria absurda, é só a gente observar os movimentos que ela tem, tudo parece feito numa sintonia e num propósito. E, meu querido leitor, eu não consigo conceber que o nosso único papel na face deste planeta, que é sábio, seja pagar boletos.

Sinceramente, eu acredito que estamos aqui e agora para viver essa experiência louca e linda com o objetivo de sermos mais presentes. Darmos valor e importância às relações, observarmos as nossas questões emocionais, atentarmos ao fato de que somos geridos pelas emoções, sensações, pensamentos, crenças, registros inconscientes. Chegou um momento, mundialmente falando, que não dava mais para a gente fugir disso. Não dava mais para a gente esconder por trás das fotos instagramáveis nossas dores, nossos medos, nossos anseios. Não dava mais para a gente recorrer aos vícios – trabalho, sexo, festa, bebida, consumo – para evitar de confrontar com o que se passa por dentro.

E, considerando que exista uma sabedoria neste universo, qual seria a única forma de nos obrigar a parar? A olhar, a enxergar, a refletir. Tudo tem um propósito. E nós, seres humanos, temos a terrível tendência de só se dar conta das coisas, quando elas estão em um estado caótico.

Pois então, cá estamos nós com a recomendação para parar de correr. Para parar de fugir. Para ficarmos o maior tempo possível dentro de nossas casas, de nossos lares. Internos e externos. Para conversarmos com os nossos familiares, coisa que está se perdendo, já que são tantos afazeres, compromissos que a nossa casa se transforma, muitas vezes, em um lugar em que passamos a noite. Estamos sendo convocados a ficarmos em casa, tirar o foco do externo. Descansar, repousar, conversar, escutar, trocar. Perceber novas formas de ser, aprender quem somos além dos rótulos profissionais que carregamos. E tudo isso com pausa, com quietude.

Enquanto vamos diminuindo o ritmo, passamos a ouvir mais nossas vozes internas, nossas sombras e o que realmente viemos fazer nessa vida. Começamos a enxergar algumas coisas, identificar meios diferentes de agir, de pensar. Vamos nos transformando para poder transformar o mundo à nossa volta.

É um período delicado? Sem sombra de dúvidas.

Mas que a gente possa tirar o aprendizado disso tudo.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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