Seria muito interessante uma pesquisa sobre o que se precisa ler, nos diversos locais de trabalho de uma comunidade. Por exemplo, nas fazendas, é preciso ler as bulas de produtos químicos, usados nas roças e no gado. Nas fábricas, é preciso ler normas de instrução e os avisos no mural. No INSS é preciso ler folhetos e preencher formulários. Nos laboratórios, é preciso ler e preencher fichas. Entre as profissões de nível superior, todas exigem a leitura de livros, jornais e revistas. São essas necessidades reais de leitura que deveriam orientar o ensino de Português nas escolas de cada comunidade. O objetivo desse ensino seria desenvolver nos alunos as competências e habilidades exigidas nas diversas práticas de leitura da vida social. Além das práticas de leitura ligadas às atividades econômicas, teríamos também as leituras de lazer e de busca de informações, com a literatura, os jornais e as revistas, estas últimas atendendo a diversas faixas etárias e níveis culturais. Um ensino de leitura e interpretação, baseado nos textos concretos usados por uma comunidade, prepara melhor o aluno para a vida. Foi com base nesses textos que uma organização italiana fez um teste de leitura e interpretação entre alunos de 15 anos, em vários países. O Brasil ficou em último lugar, incluindo alunos das escolas particulares. Isso significa que alguma coisa, no ensino escolar de Português no Brasil, vai muito mal. Parece ficar evidente, que a leitura e a interpretação de textos não é priorizada, nem é feita a partir de uma perspectiva de construção de sentidos. Pior ainda, parece que a ênfase do ensino escolar de Português ainda é o ensino de nomenclatura, classificações e regras da gramática normativa.