Eu não sei você, meu amado leitor, mas eu vivi muito tempo desta minha preciosa vida gastando mufa e energia emocional para ser perfeita. Não podia errar, não podia falhar, não podia voltar atrás, tinha que ter todas as certezas embasadas e concretas na palma da mão.
Lembro perfeitamente bem da sensação que percorria meu corpo e dos pensamentos que habitavam minha cabeça no processo de migração de profissão, quando decidi encerrar o ciclo da administração financeira e partir para o estudo do comportamento, mente e psique humanos que sempre me fascinaram, bem como escancarar de vez a porta da comunicação no meu trabalho. Minha cabeça girava. Meus pensamentos gritavam que eu não podia fazer aquele movimento, porque tinha feito quatro anos da graduação em Administração, aos 18 anos, e precisava levar aquilo para a vida toda. Não podia mudar de caminho, seria atestar que errei na escolha. Seria atestar que não fui boa o suficiente na escolha. Seria provar, para Deus sabe quem, que eu não era perfeita.
Pois bem, meu amado ser que lê aí do outro lado destas linhas, foi quando eu iniciei a caminhada neste longo percurso de aceitação da minha humanidade que eu pude caminhar mais leve. É isso mesmo, aceitação da humanidade. Aceitação da mudança de rota. Aceitação de que todo caminho nos traz ensinamentos. Aceitação de que mudar não significa abandonar e enterrar totalmente o que foi vivido. Eu não sou mais a mesma dos 18 anos. E que bom que não! Hoje tenho mais maturidade, uma visão de mundo mais consolidada e estruturada nos valores morais, no que é essencial para mim. Aceitei que sou comum!
Assim como você também é, meu tão querido leitor. Ser humano significa estar passível ao aperfeiçoamento, ao melhoramento, à mudança, à adequação. Tudo que é perfeito não necessita de reparos. É perfeito, ora! Coisa que nós não somos, convenhamos. Não é mesmo? Quantos valores a gente tem para aprimorar, quanta humildade a gente tem para desenvolver, quanto serviço a gente tem para oferecer? Consegue perceber isso aí dentro de você?
Não somos especiais. Eu não sou especial. Você não é especial, meu caro. Sua história, suas dores, seus sonhos não são maiores que os dos 7 bilhões de outros seres humanos que habitam a face deste planeta Terra. As suas dificuldades não são maiores ao ponto de te paralisarem e você se sentir vítima do mundo. Os seus caminhos não são mais fáceis ao ponto de você supor que não precisa desenvolver habilidades e humildade para conviver e se relacionar com as pessoas que te cercam. Todo mundo tem um aprendizado, a construção de uma vida vivida com verdade e objetivo. Ninguém é tão bom que não precise aprender nada e nem tão mal que não possa ensinar.
Somos comuns. Nossas dores, no apagar das luzes, são as mesmas. Queremos nos sentir amados, queremos ter quem amar, queremos passar por esta vida com a certeza que estamos deixando o bem e um caminho iluminado atrás de nós. Essa cobrança literalmente desumana que fazemos com nós mesmos de sermos perfeitos nos distancia do nosso real, da nossa verdadeira realeza: sermos humanos. Olhar para o erro e dizer: que massa, agora eu já sei que não é legal ir por este caminho. Por onde irei agora, qual o novo? Perceber que é possível – e muitas vezes necessário – mudar de rumo, de comportamento, de padrão, de visão. Estar aberto para o novo, arriscar, se jogar, pagar o preço, viver!
Entender que somente quando a gente aceita a ordinariedade da vida, é que a gente pode viver uma vida extraordinária!
Mariana é Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;
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