Deixa a frustração entrar


Mariana Benedito*: “creia que a frustração é o tempero principal do nosso processo de amadurecimento emocional”


                

É isso mesmo que você leu, meu amado leitor. A frase que anuncia o título desta coluna está certinha e a gente precisa conversar um pouquinho sobre a importância da frustração nas nossas vidas. É, ela mesma. Aquela dorzinha na alma que corremos léguas de sentir porque, na maioria das vezes, quando ela chega e quer fazer morada, traz mais companhias na sua bagagem: a tristeza, a raiva, o medo, a baixa estima, o desespero, a desesperança, a cegueira para enxergar possíveis novas saídas.

Mas, repare, creia que a frustração é o tempero principal do nosso processo de amadurecimento emocional. Nós precisamos ser frustrados em diversos momentos de nossa vida, para que a gente desperte!

Veja bem, vamos conversar sobre a frustração a partir de duas perspectivas. A primeira é realmente a necessidade que a gente precisa ter de estar aberto à frustração, deixar que ela chegue, doa, aperte, esmague nossas idealizações. Depois, a capacidade que a gente desenvolve de frustrar os outros para que nossos limites sejam estabelecidos e respeitados nas relações. Vamos com calma, por partes. Eu sei que não é um tema muito gostosinho de lidar, mas é fundamental para que a gente saiba lidar um pouco melhor com nossas emoções.

Mas, antes de qualquer coisa, respire. Pegue na minha mão e vamos!

Repare, para uma criança ser educada e compreender a dimensão e sentido de leis, regras e deveres, ela precisa ouvir “não”, precisa ser frustrada em seus desejos. Em resposta, vem a birra, justamente porque a criança não tem repertório emocional para expressar e lidar com a dor da frustração. Nós, na vida adulta, ainda seguimos precisando da frustração para entender o que nos cabe, quanta energia estamos dispensando no plano das idealizações e quais escolhas precisamos fazer para ajustar as rotas da vida. A frustração é um guia.

Quando fazemos aquele plano bem elaborado, cheio de roteiros e diretrizes e, por alguma razão, algo não sai como desejamos e nos sentimos decepcionados e frustrados, compreendemos que aquele caminho não é o melhor ou que, ao menos, não é a hora certa de seguir adiante; daí a necessidade de botar o pé no freio, reorganizar as velas e tocar o barco. A realidade chega com toda sua pompa e circunstância nos convocando a fazer o que precisa ser feito, a olhar para o real e para as possibilidades reais que temos.

É preciso sair do pedestal, descer do Olimpo, sair do castelinho perfeito das idealizações e encarar a dureza da vida. A frustração nos faz mais fortes!

Agora, quando falamos sobre a importância de frustrar o outro, falamos sobre não corresponder às expectativas alheias. Nossos pais idealizaram uma imagem de nós, nossos amigos idem, pessoas com quem nos relacionamos idem parte dois; mas é impossível viver sem frustrar alguém. Somos humanos. E ser humano significa não ser perfeito e que, em algum momento dessa jornada, não vamos corresponder às expectativas. Não somos perfeitos. Aprender a lidar com a nossa imperfeição e humanidade é libertador, acredite. Um processo profundo, mas libertador.

Em algum momento precisamos viver de acordo ao que acreditamos, seguir o caminho que escolhemos e assumirmos nossa verdade. Dizer “não” para o outro, e “sim” para nós. Colocar os limites do que gostamos, queremos e aceitamos para o outro.

Lógico e obviamente, ninguém gosta de ser frustrado. Queremos sempre a parte boa e leve da vida. Um comportamento infantil difícil da gente perder; mas a frustração é necessária, é parte fundamental na construção da nossa identidade e maturidade.

Deixe-a entrar.

 

* Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

E-mail: [email protected]