Olha, meu amado leitor, se tem uma coisa que eu venho percebendo ao longo da minha trajetória profissional, dentro da prática clínica – e também na minha vida pessoal – é a importância de uma autoestima consolidada. E autoestima vai muito além de aparência estética, imagem pessoal, beleza física. Autoestima é o conjunto da obra. É a gente se sentir bem na esfera pessoal, profissional, relacional, física, emocional e espiritual.
Autoestima é amor próprio, é construir consigo mesmo uma relação compassiva, empática, amorosa, compreensiva. É praticar o autoperdão pelas falhas, pelas tomadas de caminhos equivocados e passar a enxergar tudo isso pelos olhos do aprendizado, da lição, da construção de valores, do senso de merecimento. Autoestima é a capacidade de colocar limites, de dizer não ao que vai contra o que queremos para a nossa vida, nossa verdade, nosso equilíbrio.
Veja bem, uma das principais questões – quiçá a maior – que rondam os nossos dilemas existenciais é justamente a dificuldade que a gente tem para reconhecer o que merece, para defender o que a gente quer, nosso ponto de vista, desejos, interesses, o que é bom e saudável para a gente em detrimento dos desejos, atitudes, posturas, comportamento e instabilidade do outro. E aí vamos nos anulando, diminuindo, perdendo o brilho, sabe? E para temperar ainda mais esse molho, todos nós temos – em maior ou menor escala – aquela velha crença de que não somos suficientes, merecedores e dignos de afeto unicamente por quem somos.
Existem inúmeros pensamentos negativos que rondam a nossa cabeça, não é mesmo, meu amado ser de luz que está aí lendo estas linhas agora? Pensamentos que fortalecem, influenciam essa sensação de não pertencimento, falta de acolhimento e de valorização. Mas, observe, o ponto em comum entre essas sensações é a importância que damos à opinião do outro.
Aceitamos que nos digam o que fazer, o que sentir, de que forma sentir, o que podemos querer, o que podemos pedir, de que forma devemos agir. O que pensam, dizem, sentem e esperam de nós podem ser gatilhos fortíssimos de insegurança, incerteza, medo; passamos a ficar em estado de alerta e na defensiva: ora esperando que o pior aconteça e que sejamos abandonados, ora nos moldando e pisando em ovos para não desagradar e, adivinhe, também não sermos abandonados.
Só que chega o momento em que a vida começa a gritar que precisamos saber reconhecer o nosso valor, o que merecemos, que lugar queremos e vamos ocupar. Chega uma hora que se enquadrar, agradar, buscar ser útil o tempo todo começa realmente a nos rebuliçar; esse lugar começa a sufocar e ficar apertado, a incomodar, a remexer. Percebemos, minuto a minuto, que não cabemos mais ali.
Amor próprio é ganhar consciência de que é preciso saber o que é melhor para nós, é olhar para a gente com a mesma gentiliza e compreensão que olhamos para o outro, é deixar de ser carrasco e algoz de si mesmo, é começar a estabelecer um diálogo interno mais acolhedor e compassivo.
E, olhe: é hábito!
É dar mais um passo a cada dia. É a cada dia repetir que nós somos o grande amor de nossas vidas.
– Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;
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