Conhece essa música de Gonzaguinha, meu amado leitor? “São tantas coisinhas miúdas, roendo, comendo, amassando aos poucos o nosso ideal”. O nosso ideal nesse mundão de meu Deus é a magnitude, a ascensão, o crescimento, a cura, o amor.
A gente teima em permitir que a pequenez invada, que as coisinhas miúdas corroam o nosso propósito e nos façam prisioneiros de coisas insignificantes; coisas que, no final das contas, quando as luzes se apagam, não nos engrandecem em nada, só criam muros que nos distanciam de amar.
É fácil se contentar com a pequenez, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado. É mais fácil se deixar entranhar por um mundo que prega o egoísmo, a disputa, a competição, a desconexão com nossas emoções, o bloqueio de sensações, o medo do mergulho interno, a mediocridade, a superficialidade, o morno do que ir contra a maré e buscar a magnitude, a construção de valores morais, a formação de uma personalidade madura, confiável, estável, sólida, comprometida consigo e com o que te cerca.
Agora o que a gente não se dá conta é que a nossa escolha entre pequenez e magnitude representa uma avaliação sobre nós mesmos. Escolher a pequenez é se julgar indigno da magnitude. E seja lá com o que se tente recompensar, oferecer a si mesmo para substituir, camuflar ou amenizar esse julgamento, não vai se sustentar por muito tempo. Na verdade, só faz com que a gente se diminua e esqueça, cada vez mais, para o quê fomos criados.
Recentemente eu li a seguinte frase: “queres ser refém do ego ou anfitrião de Deus?” E ela simplesmente alugou um triplex em minha cabeça, porque toda decisão que a gente toma nessa vida responde a essa pergunta. Independentemente de religião, crença, credo. O ponto não é esse, meu amado leitor.
A questão é que nós somos seres integrais, e não seres separados. Não existe mente sem corpo, não existe corpo sem alma e não existe alma sem mente. Perceber e entender que existe algo maior sob nossas cabeças, uma energia que rege, comanda e conecta toda essa teia aqui embaixo é essencial, justamente para abandonar a pequenez e fazer a escolha pela magnitude.
Procurar e se firmar no pequeno é negar o poder da existência. Estar aqui, neste momento, é grandioso demais para ser desperdiçado e já passou da hora de despertar para essa grandeza. A grandeza que nos habita, que somos. Negar a magnitude é negar o nosso propósito nesse mundo.
É um desafio deixar para trás a pequenez e não mais seguir a multidão boiada caminhando a esmo? Não é um desafio despertar para a vida, para a glória, para a magnitude; mas é um exímio sacrifício aceitar qualquer coisa menor que isso.
Quando a gente tiver finalmente aprendido a reconhecer quem somos e de onde viemos, não vamos mais precisar de fugas, atalhos, compensações, porque teremos o conhecimento, vivo dentro da gente, de que já somos completos.
A gente é que insiste em se partir.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito