Nasce o bebê indígena de número 300 no Hospital Materno-Infantil de Ilhéus


Eles trazem no sangue uma narrativa histórica de luta e de dor dos povos originários da região


Foto: divulgação

A indígena Emilly Roma, de 19 anos, e Adilson Júnior, 23, também descendente do Povo Tupinambá, moram no Cururupe, localidade do litoral sul de Ilhéus. Eles trazem no sangue uma narrativa histórica de luta e de dor dos povos originários da região. Ali mesmo, em 1559, ocorreu o maior massacre registrado nos livros históricos contra os Tupinambá. A etnia quase foi dizimada. Foi também na mesma região, na primeira metade do século 20, onde um dos seus líderes, o caboclo Marcelino, desapareceu, depois de ter sido preso e torturado. É neste cenário de resistência e de luta onde a pequena Maria Eloá vai viver. Ela nasceu nesta quinta-feira (18) no Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus. É o 300º bebê indígena nascido na unidade, desde que o HMIJS foi inaugurado pelo Governo da Bahia, através da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), ao final de 2021.

“Esta marca histórica é resultado de um olhar do governo voltado à construção de um SUS para todos”, destaca a diretora-geral da instituição, Domilene Borges. O diretor-médico Samuel Branco lembra que desde março, o HMIJS é a única maternidade da Bahia a estar habilitada pelo Ministério da Saúde a prestar atendimento especializado aos Povos Indígenas no Estado. A unidade tem trabalhado permanentemente na implantação das diretrizes gerais que norteiam o programa, que vão desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado; adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais; e ajuste de dietas hospitalares considerando os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa conta ainda com o acolhimento e humanização das práticas e processos de trabalho dos profissionais em relação aos indígenas e demais usuários do SUS, considerando a vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.

Cuidado

O nascimento de Maria Eloá ocorreu nos primeiros minutos desta quinta-feira. O parto foi normal. O bebê nasceu com 3.790 Kg e 49 cm. Deve receber alta médica até a sexta-feira (19). Hoje receberá a visita de profissionais do ambulatório para dose da vacina BCG e da Hepatite B, e também passará por testes da orelhinha, linguinha, coraçãozinho e olhinho. Prestes a registrar 8 mil partos em menos de três anos de funcionamento, o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, administrado desde a inauguração pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), é referência do Sistema Único de Saúde (SUS) na região.

“Me senti super acolhida”, destaca a puérpera. Ela disse que a filha Maria Eloá traz consigo a esperança de novas oportunidades para o seu povo. “Ser o bebê indígena de número 300 tem um significado especial para a família. Espero para ela um futuro maravilhoso, com a liberdade de poder escolher a sua própria história”, disse. O acolhimento aos Povos Originários no HMIJS referencia o projeto do hospital baseado na humanização do cuidado, nos direitos da mulher e da criança e na consolidação do Sistema Único de Saúde, que são princípios da ação de trabalho da instituição.

Segunda maior população indígena do País

De acordo com o IBGE, o Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas. Com 229.103, a Bahia conta com a segunda maior população indígena no país, o que representa 1,62% dos habitantes do estado. Salvador é a segunda capital mais indígena do Brasil. No ranking das 50 cidades do Brasil com maior comunidade do grupo étnico, a Bahia ainda conta com Porto Seguro, em 14°, e Ilhéus, 21°. Entre a pesquisa de 2010 e de 2022, ocorreu em todo o Brasil um acréscimo de 88,8% no contingente absoluto de pessoas que se autodeclararam indígenas.

Estrutura

O hospital tem 105 leitos de internação, sendo 10 de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) e 25 de semi-intensiva; capacidade para atender urgências e emergências de toda a região; além de cinco leitos no Centro de Parto Normal Intra-hospitalar. Está estruturado para a assistência ao parto de risco, gestação de alto risco, cuidado intensivo e intermediário neonatal e cuidado intensivo e clínico às crianças. O funcionamento é 24 horas, com acesso por demanda espontânea e referenciada, integrada aos pontos de atenção primária.

A unidade tem porta aberta de maternidade, leitos de UTI neonatal e semi-intensivo, leitos de canguru e centro de parto normal. Para além disso, a unidade pediátrica conta com 23 leitos e mais 10 leitos de UTI pediátrica, que são 100% regulados. Além da realização de partos e da internação, o hospital oferta atendimento ambulatorial especializado em pré-natal de alto risco, consultas especializadas em obstetrícia, cardiologia, enfermagem, nutrição e psicologia. A unidade funciona também como um polo de desenvolvimento de ensino, reunindo formação acadêmica, pesquisa e produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde.