Uma das maiores percepções que tenho ao longo dessa minha jornada como psicoterapeuta é que existe um vazio silencioso que lembra o ser humano de algo muito mais profundo, meu amado leitor: a sede de sentido.
A busca pelo prazer momentâneo, pelo reconhecimento, pelo status, pelo dinheiro não supre esse vazio. E, quando ele bate à porta, não vai embora até que abram e o recebam para ouvi-lo.
Nós, seres humanos, não somos como os animais, que vivem baseados puramente em seus instintos sem levantar os olhos para o que está além do aqui e agora. Temos uma consciência que nos inquieta, que nos faz buscar respostas para questões que remexem a gente, em algum momento da vida. Qual é o nosso papel no mundo? Qual o legado que estamos deixando? O que realmente importa na vida que estamos vivendo?
Cada circunstância, cada momento nos oferece uma oportunidade de encontrar o nosso papel. A vida nos convida diariamente a uma entrega, meu caro! Não se trata de grandes gestos heroicos, mas de pequenas ações, de renúncias diárias por aqueles que nos foram confiados. Isso vai além de ter uma família ou filhos, inclusive! Mesmo que você não tenha essas responsabilidades, a sua vida, de uma maneira ou outra, toca outras pessoas. O modo como você decide entrar na vida dos outros se torna uma marca na história que está escrevendo.
E, te digo mais, amado ser que lê essas linhas aí do outro lado: muito se fala da busca pela felicidade. Felicidade não é o conforto de uma vida fácil, sem desafios ou sacrifícios. Pelo contrário, a verdadeira felicidade acontece quando nos entregamos, quando damos o melhor que podemos por algo ou alguém que realmente importa. E isso inclui também as pessoas que cruzam o nosso caminho todos os dias, aquelas com quem convivemos e que dependem – de maneira direta ou não – da nossa presença, do nosso cuidado e da nossa dedicação.
Qual é a história que você está escrevendo? Se a sua vida fosse lida como um livro, página por página, ela expressaria os seus valores mais elevados? Ou o que se veria é uma busca incessante por prazeres instantâneos, sempre acompanhada daquela sensação de insuficiência, da reclamação constante de que nada está bom e de que falta sempre um pouco mais? Suas páginas contam uma história que transcende o tempo? Uma história de entrega, de contribuição, de um legado que não se esvai com o passar das horas, mas que permanece nas vidas que você tocou e no bem que gerou?
Viver é mais do que existir, convenhamos. Não estamos aqui apenas para passar pela vida em busca de prazeres rasos, momentâneos, pueris. Quando nos limitamos a isso, a sensação de vazio se intensifica. A busca desenfreada e irrefletida por dinheiro, reconhecimento, validação ou status não enche esse copo furado que você carrega. E quanto mais tenta preencher com coisas que acabam, mais está desperdiçando tempo e energia sem retorno.
O sentido da vida não está nas coisas que acumulamos, mas nas pessoas que impactamos. Está nas ações que tomamos todos os dias, no nosso trabalho, nas conversas que temos, nas escolhas que fazemos. E encontrar sentido é uma escolha que se faz a cada dia; essa escolha é um convite à maturidade!
Portanto, meu amado leitor, faça a si mesmo a fatídica pergunta: o que estou construindo? A história que está escrevendo com suas ações diárias é uma que gostaria de ver gravada no tempo? Se as suas páginas revelam apenas a busca por prazeres ou poder, ainda há páginas em branco.
Quem se poupa, perde a vida.
Quem se entrega, encontra o sentido.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito