O paradoxo da busca pelo prazer


"O diploma exigiu disciplina, o amor precisou de paciência e entrega, a carreira demandou a busca pela excelência"


Convenhamos, meu amado leitor: quem não gosta de bons momentos de prazer? Relaxar ao final do dia, uma viagem esperada, um abraço apertado, uma compra tão desejada. O prazer tem seu papel, e que papel importante! Ele nos nutre, nos dá respiros, alivia tensões, nos conecta com o belo da vida. Mas há algo que precisamos olhar com mais atenção quando ele deixa de ser um complemento da vida e passa a ser o único objetivo, o único guia das nossas escolhas. Ele deixa de ser benéfico e passa a ser uma armadilha.
Vivemos em tempos de gratificação instantânea, isso é um fato. Estamos cada vez mais imediatistas e desaprendendo a esperar o tempo das coisas. Tudo está ao alcance de um clique, sem esforço, sem demora. O mundo nos promete que, se tivermos acesso contínuo ao que desejamos, seremos mais felizes. Mas, lamento te informar, o que acontece é exatamente o oposto. Quanto mais buscamos prazeres rápidos e imediatos, menos conseguimos extrair significado deles. Se não há espera, não há desejo. Se não há desejo, não há satisfação. A equação é clara! É a busca excessiva pelo prazer que nos rouba justamente a experiência do prazer.
Repare, vou te dar um exemplo simples: imagine alguém que come chocolate apenas uma vez por mês. Quando finalmente saboreia aquele pedaço, ele vive intensamente aquele momento. Esse instante é aguardado, idealizado. Agora, pense em alguém que come chocolate todos os dias, várias vezes ao dia. O que antes era um deleite se torna banal. Perde a graça. Fica sem gosto. O mesmo acontece com qualquer prazer: quando o transformamos em rotina, ele perde a intensidade e pode até se tornar um motivo de tédio, de insatisfação.
Mas há um ponto ainda mais perigoso nisso tudo. Se estamos sempre correndo atrás de prazeres, também estamos fugindo de algo. E, muitas vezes, o que estamos tentando evitar é a dor. Queremos ser felizes, mas sem esforço. Queremos aprender, mas sem errar. Queremos construir relações profundas, mas sem lidar com conflitos e dificuldades. Só que a vida não é feita apenas de prazeres, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado! Ela carrega desafios, responsabilidades, escolhas difíceis. E são justamente essas experiências que nos fazem crescer, amadurecer e dar valor aos momentos de felicidade.
Se você olhar para trás, perceberá que as maiores conquistas da sua vida vieram de momentos difíceis. E aqui eu não estou fazendo apologia ao sacrifício, à renúncia. Nada disso! Até porque eu não sou dessa linha, meu baba é jogado na leveza. Mas a dedicação, disciplina, constância precisam existir. O diploma exigiu disciplina, o amor precisou de paciência e entrega, a carreira demandou a busca pela excelência por meio da qualificação constante. O prazer de olhar para essas conquistas é profundo porque ele é consequência do esforço, da entrega, da superação. Nada que é verdadeiramente sólido e estável é construído apenas no prazer. Esqueça! O prazer é o descanso da caminhada, não o caminho em si.
E então, meu amado leitor, o que fazer? A resposta não é eliminar o prazer da vida – jamais! Mas também não podemos permitir que ele nos guie cegamente, porque a felicidade não está apenas no prazer imediato, mas no equilíbrio entre prazer e propósito. O prazer sem propósito se torna vazio. Mas o propósito sem momentos de prazer e descanso se torna pesado. O segredo está na dosagem.
Que possamos perceber os prazeres que nos alimentam de verdade, aqueles que nos fazem sentir vivos, plenos, conectados. E que possamos ter a coragem de encarar a vida em sua totalidade, sem fugir do que não é confortável, sem buscar apenas atalhos pra cortar o caminho do confronto com nossas sombras e más inclinações.
O prazer não pode ser o único destino, mas pode ser um belo acompanhante na jornada. Saiba fazer o convite!

Mariana Benedito é Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito