A capacidade de sentir tristeza é uma bênção!



Está acontecendo aqui em Itabuna um itinerário das emoções. Ideia bem legal de um grupo de terapeutas e buscadores, para disseminar e incentivar a discussão, entendimento sobre as nossas emoções e a importância de cada uma delas no nosso desenvolvimento e qualidade de vida. Já teve encontro sobre a gratidão e os próximos serão sobre compaixão e equilíbrio. O da semana passada foi sobre a tristeza, eu estava lá presente, e muitas reflexões foram feitas e observadas; quero compartilhar algumas com você aqui, amado leitor. Vamos lá, pegue na minha mão e embarque comigo!

Eu acredito que o mais importante quando a gente fala de tristeza, é tirar aquele rótulo cinza, nebuloso, mórbido da bichinha. Convenhamos que a tristeza é uma energia densa, mais pesada, justamente porque evitamos de senti-la. Mas aí é que está, meu caríssimo leitor, por que evitamos de sentir?!  Por que mantemos a tristeza a uma distância confortável, de segurança? O fato é que a gente não quer se abrir à nossa própria tristeza, porque ela implica em vulnerabilidade. Todo aquele sentimento de perda, dor, luto, dúvida, medo que, consequentemente, nos traz a visita da tristeza, nos deixa vulneráveis e nós passamos uma vida inteirinha buscando ser – ou parecer – fortes.

Mas aí entra outra questão: de onde vem essa ideia de que demonstrar tristeza é ser fraco? De onde vem essa ideia de que se mostrar vulnerável é sinônimo de fraqueza? Durante a nossa infância fomos ensinados que a tristeza é um sinal de fraqueza. Quantas vezes fomos chamados de chorões, de frágeis? Alguma vez você já sentiu vergonha das suas lágrimas? Em maior ou menor grau, você internalizou a ideia de que é preciso sempre abafar e sufocar e reprimir seus sentimentos e emoções, vestir a capa da coragem, fingir que está tudo bem, levantar a cabeça e ir? Correndo, evitando e fugindo léguas de sentir tristeza. E o que vem com tudo isso? Peso, carga, a sensação de inadequação quando a gente se sente triste e a busca incessante por deixar de sentir aquilo e voltar a vestir o sorriso largo a qualquer custo.

Agora repare, se não fosse a maneira como todos nós julgamos e criticamos e apontamos o dedo para a tristeza, ninguém teria vergonha de senti-la. Percebe? A tristeza é socialmente inaceitável, associada puramente à fraqueza, fragilidade e, no pior dos casos, drama para chamar a atenção. O resultado disso só pode ser a gente se recusar a vivenciar, sentir; acumulando pesos, literalmente. Observe a postura de uma pessoa deprimida, por exemplo: ela parece carregar o peso do mundo nas costas, os ombros curvados, fechados, como se buscasse se proteger, ficando encolhidinha.

Mas eu digo para você, que me lê aí do outro lado, que não existe outro caminho nessa vida além do sentir. O único caminho para fora da nossa dor é através da nossa dor. É preciso sentir a tristeza, mas sentir tudo mesmo. Existe uma dádiva na tristeza. Avalie que as nossas maiores reflexões, percepções, viagens internas, reconhecimento de nós mesmos surgem quando a gente está mais recolhido, mais introspectivo, mais triste. A tristeza é de uma importância imensa para a gente se perceber, se observar e se identificar com as outras pessoas, porque todo mundo na face desse planeta Terra fica triste. Bateu aquela tristeza, aquela dor, um sentimento de perda, de rejeição, deu vontade de chorar? Que bom. Você é umas das 7 bilhões de pessoas que sentem tudo isso também.

A grande questão é a gente mudar a ideia, a visão e a experiência com relação à tristeza. Se permitir sentir, se voltar para essa emoção, reconhecendo que é uma oportunidade de se observar, porque a tristeza está trazendo alguma mensagem; e permitir que ela flua: ela chega, você pega ela para tomar um chá ou um café, sente o que ela tem pra te dizer, o que ela está querendo mostrar e, assim como qualquer outra visita, ela vai embora. Cumpre o seu papel.

A tristeza não nos torna menos humanos. Muito pelo contrário, nos torna ainda mais humanos, mais conectados, mais abertos. Reais.

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* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3 –Consultoria e Assessoria.

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