Coluna Wense: A disputa na ALBA



João Leão

 

A disputa pelo cobiçado comando da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) não se restringe ao poder da instituição. Os olhos estão também direcionados para a sucessão estadual de 2022.

Como o governador Rui Costa está legalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato consecutivo (re-reeleição), o pega-pega vai ficar acirrado entre as legendas que compõem a base aliada, principalmente entre PT, PSD e PP.

Uma parcela significativa do PT não abre mão de mais um mandato petista no governo da Bahia, com o senador eleito Jaques Wagner disputando o Palácio de Ondina. O PSD diz que a vez é do senador Otto Alencar. O PP é carta fora do baralho.

A eleição para presidir a ALBA é o primeiro e importante passo no fortalecimento do grupo político que pretende disputar a sucessão de Rui Costa.

O PP do vice-governador João Leão, com o apoio do PDT, PCdoB e PRP, já tem seu candidato, o deputado estadual Nelson Leal. Com a provável ida de Júnior Muniz e Jurandir Oliveira para o Partido Progressista, o grupo fica com 16 parlamentares.

A ALBA é composta de 63 deputados. A bancada do governo possui 43 e da oposição 20. As duas legendas com maior número é o PT e PSD, respectivamente com 10 e 9.

O nome do PSD é Adolfo Menezes, que tem o apoio do senador Otto Alencar, já pré-candidato ao governo da Bahia, e do eleito senador Ângelo Coronel, ex-presidente da Assembleia Legislativa.

O presidente estadual do PT e ex-vereador de Itabuna, Everaldo Anunciação, achou precipitada a articulação do vice-governador João Leão, feita à revelia de Rui Costa, que segundo Anunciação é o comandante do processo eleitoral na ALBA.

Como o projeto do PT de lançar Rosemberg Pinto foi abortado pelo próprio governador Rui Costa, ao convidá-lo para assumir a secretaria de Educação, o confronto vai ser Leal (PP) versus Menezes (PSD).

Em relação aos 20 votos da oposição, que podem ser decisivos, a tendência é que a maioria seja para o candidato considerado menos petista e, como consequência, manter uma certa independência com o chefe do Executivo.

No mais, esperar a posição do governador Rui Costa, que deve agir no sentido de evitar que a disputa caminhe para um acirramento incontrolável.

Que a roupa suja seja lavada

Que cada segmento ideológico faça sua organização para contrapor a quem pensa diferente. É assim que deve ser, sem violência, terrorismo e posições sectárias.

A disputa por mais espaços políticos é salutar, é inerente ao Estado democrático de direito. O respeito tem que ser recíproco. Não há mais lugar para o radicalismo, seja de esquerda, direita ou qualquer outro campo de pensamento.

Uma nova frente internacional está sendo criada para “fazer oposição aos governos de extrema direita que se proliferam pelo mundo”, tendo como protagonistas o senador americano Bernie Sanders e o ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis.

O petismo, de maneira eufórica, fazendo festa, soltando foguetes, está comemorando o convite feito ao ex-presidenciável Fernando Haddad, que quando prefeito de São Paulo foi considerado o pior do Brasil, sem falar da ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.

O lançamento dessa coalização, chamada de Coalização Internacional Progressista, descarta qualquer autocrítica em relação ao comportamento da esquerda em alguns países do mundo.

O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, deu um péssimo exemplo. Enveredou-se pelo caminho errado, protagonizando vários escândalos. Deu no que deu: importantes lideranças presas, incluindo aí a maior de todas, o ex-presidente Lula.

Outro detalhe é que precisa acabar com essa idiotice de dizer que fulano de tal é da “direitona” – expressão que adoram usar – quando alguém faz contundentes críticas aos absurdos da esquerda.

Ora, ora, a esquerda tem que fazer uma profunda e urgente reflexão, sob pena de desaparecer nos seus próprios devaneios ideológicos. Esse “vale tudo” para conquistar o poder é deplorável.

Essa tal de coalização progressista, que de frente internacional não tem nada, deveria colocar na pauta a discussão sobre o desvio ético de algumas legendas de esquerda, que quando chegam no poder se lambuzam com o dinheiro público.

Concluo dizendo que qualquer frente, seja de esquerda, direita, extrema-direita, extrema-esquerda, tem que primeiro lavar a roupa suja.

Essa conversinha mole, a mesma de sempre, só cheira a demagogia e oportunismo. O cidadão-eleitor-contribuinte está atento.

A ficha não caiu

O sentimento pejorativo em relação ao ex-presidente Lula, preso há vários meses, começa a ceder lugar para a piedade de verdade, na acepção da palavra.

Sai o “tô com peninha dele” e vem o sentimento de dó verdadeiro. Segmentos do antipetismo e do bolsonarismo, pelo menos os mais religiosos, já defendem a prisão domiciliar de Lula.

Juízes dos tribunais superiores, principalmente do Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Poder Judiciário, estão impressionados com o envelhecimento do petista.

Alguns magistrados, em conversas reservadas, são da opinião de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha a passos largos para um inevitável início de depressão.

Pois é. Mesmo vivendo esse inferno astral, com suas maiores lideranças envolvidas com a Justiça, com Lula preso, o PT ainda quer ser manda-chuva da oposição ao governo Bolsonaro. O PT é adepto do “quanto pior, melhor”.

O PT está cada vez mais isolado no Congresso Nacional, como se fosse uma espécie de “patinho feio”. Nem os “companheiros” da esquerda e do centro-esquerda querem aproximação. O PT, no entanto, se acha o representante-mor desse campo político.

Parece que a ficha não caiu. O comportamento da ex-senadora Gleisi Hofmann, presidente nacional da legenda, diante do atual cenário político, é a prova inconteste de que a soberba do PT continua intacta, que o partido teima em não calçar as sandálias da humildade.

Ou o Partido dos Trabalhadores reconhece que não é mais o todo poderoso e pede desculpas, ou segue seu próprio caminho.

PS – A situação do ex-presidente Lula é complicada. Como não bastassem outras condenações que virão, tem Jair Bolsonaro como presidente da República, Sérgio Moro como ministro da Justiça e muitos generais no governo.