A dor de não se permitir ser feliz


Mariana Benedito: “Permitir-se ser feliz é um movimento interno de legitimar o próprio valor”.


 

Meu amado leitor, hoje quero conversar contigo sobre uma dor silenciosa. Que fica escondidinha, quietinha sem deixar rastros que chamem muito a atenção, mas vai, aos pouquinhos, minando seus sonhos e desejos. Uma dor que quase ninguém reconhece de imediato, mas que corrói por dentro, sufoca os dias e esvazia o peito: a dor de não se permitir ser feliz.

Sim, eu sei. À primeira vista pode parecer estranho. Afinal, quem não quer ser feliz, não é mesmo? Quem, em sã consciência, recusaria uma vida mais leve, um amor sincero, uma realização pessoal, uma conquista celebrada com brilho nos olhos?

Pois te digo: muita gente. E não porque essas pessoas sejam ingratas ou problemáticas. Mas porque, em algum ponto da vida — geralmente lá na infância, no primeiro amor frustrado, numa culpa enraizada, numa dor não elaborada — foi plantado dentro delas a ideia de que ser feliz era perigoso, proibido ou, pior ainda, um artigo de luxo que elas nem sequer mereciam.

E aí, o que acontece? Quando a vida começa a sorrir, quando surge a chance de dar certo, quando o amor bate na porta, quando a oportunidade se apresenta… bloqueio! A mente inventa desculpas. O medo se disfarça de prudência. A ansiedade aparece como “pressentimento ruim”. E a pessoa se afasta da própria felicidade como quem foge do fogo.

Me diga com sinceridade: quantas vezes você já percebeu que estava prestes a viver algo bonito e recuou? Quantas vezes você deu pra trás porque “era bom demais pra ser verdade”? Quantas vezes, mesmo depois de conquistar algo, sentiu culpa por estar feliz enquanto outros ainda sofriam?

Meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado, isso tem nome: culpa inconsciente por desejar e aspirar a luz. E essa culpa, na maioria esmagadora das vezes, nem é sua. Vem de gerações, de histórias familiares carregadas de escassez emocional, onde brilhar era visto como arrogância, onde sorrir era sinal de desrespeito à dor alheia, onde se destacar era perigoso demais.

Mas deixa eu te contar uma coisa: a sua felicidade não afronta a dor de ninguém, acredite. Ela não desrespeita o sofrimento do outro. Muito pelo contrário, ela pode ser farol. Pode ser inspiração. Pode ser cura.

Ser feliz é, sim, um ato de coragem. Porque exige que você enfrente fantasmas antigos, que você encare sua criança ferida e diga a ela: ei, vem cá, agora você está segura e pode se permitir ser feliz. Agora você pode receber o amor sem medo de ser abandonada. Pode alcançar o sucesso sem precisar se punir. Pode viver com alegria sem que isso te desconecte de quem você ama.

Permitir-se ser feliz é um movimento interno de legitimar o próprio valor. De confiar na vida. De abrir os braços para o que é bom, bonito e legítimo. É um compromisso com a própria inteireza. Porque, repare, tem muita gente sobrevivendo, mas pouquíssima gente se autorizando a viver de verdade.

A Psicanálise nos ensina que repetimos padrões inconscientes até que eles sejam vistos, elaborados e ressignificados. E eu te digo: você pode escolher algo diferente. Você pode romper esse ciclo. Pode olhar para sua história com compaixão e, mesmo com todas as feridas, dizer a si mesmo: eu me permito ser feliz.

Você não precisa esperar estar “curado” para viver coisas boas. A felicidade não é prêmio, é direito. E começa no instante em que você se autoriza a recebê-la.

Hoje, que tal começar devagarinho? Aceitar um elogio sem desconfiar. Celebrar uma conquista sem justificar. Receber amor sem se sabotar. Um passo por vez. Um gole de vida por dia.

E quando o medo aparecer – porque ele vai – apenas diga: agora eu sei que posso ser feliz sem culpa. E vou.

 

Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta

Instagram: @maribenedito





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