Foi nos anos oitenta que o economista Edmar Bacha criou o termo “Belíndia”, para sintetizar a situação do Brasil, mostrando que o nosso fabuloso país apresentava áreas ou regiões que se comparavam à desenvolvida Bélgica e, outras, com semelhança ao que se via em lugares da Índia. O citado economista foi um dos escolhidos por Fernando Henrique Cardoso para participar da elaboração do “Plano Real “– combatido pelos petistas – e que tirou o nosso Brasil daquela escalada gigantesca de uma inflação incontrolável.
Volto a pensar nesse assunto quando vejo o último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, por sua vez, cita dados do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD) com dados sobre o Brasil, como, por exemplo, mostrando que os 10% mais ricos têm rendimentos 13 vezes maiores que os 40% mais pobres e que, de 2015 para cá, um milhão de brasileiros desceram a linha da pobreza, classificando-nos como o 7º país mais desigual do mundo.
Também foram citados dados constantes no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que nos conduz a uma maior reflexão e a uma maior cobrança à classe dirigente,embora saibamos que a construção de uma nação é feita pela totalidade de seu povo e que o governo, ou governos, não podem tudo. Na classificação do IDH ocupamos a 79ª posição com o índice de 0,76 estando, na América do Sul, atrás do Chile, da Argentina e do Uruguai. O melhor IDH é o da Noruega e, o pior, o do Níger.
Para a classificação do IDH são considerados, basicamente, a educação, a longevidade e a renda e isso seria o reflexo da pujança de um povo mas, para se chegar a esse ponto, muitos fatores são considerados como, por exemplo, a rede de esgoto que, no nosso país, não chega à metade da população; também considera o fornecimento de água tratada, da coleta de lixo e o seu destino, e o problema da drenagem.
É evidente que, quando se fala na longevidade, isso tem a ver com a saúde que, por sua vez, está diretamente relacionada a uma boa alimentação, à utilização de água tratada e sem que se veja, como observamos constantemente, lixo acumulado, esgoto a céu aberto nas portas das residências, com crianças brincando, descalças, em meio ao esgoto, dividindo o espaço com ratos, porcos, cães e outros animais; é a parte condenável da Belíndia do Edmar Bacha, em oposto àquelas áreas pujantes que encontramos em algumas cidades do leste, do centro-sul e do oeste, impulsionadas por uma agricultura pujante, indústrias importantes e melhor nível educacional. O agronegócio que floresce nessas regiões está trazendo importantes divisas para o país e, muito em breve, veremos os frutos dessas colheitas.
O problema da saúde pública é sério? É seríssimo, mas só podemos enfrentá-lo com alta resolutividade quando tivermos água tratada, esgoto, coleta e destino correto para o lixo, moradia decente, emprego, lazer, boa educação, pois tudo isso concorre para a manutenção de uma boa saúde.
Infelizmente, ainda estamos longe para irmos deixando, pouco a pouco e parte da Índia, migrando, sem volta, para a parte da Bélgica. Aí sim, nos orgulharemos do nosso grande e inigualável Brasil que, em termos de riquezas, belezas, fauna e flora, fica à frente de todo mundo.