Artigo de João Otávio Macedo – A SAÚDE PEDE SOCORRO


“A prática, contudo, veio mostrar que nem sempre isso ocorre, com as autoridades de saúde de Brasília referindo que os Estados e Municípios não estão cumprindo o que está escrito na constituição”


A nova constituição brasileira, em vigor desde outubro de 1988, mudou, ou pelo menos tentou mudar, muita coisa em nosso país e a atenção à saúde foi uma das que mais sofreram profundas alterações, ao universalizar a assistência médico-hospitalar a todos os cidadãos brasileiros. A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi um marco divisório, dentro daquela diretriz de que “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”; acabava-se aí, ou, pelo menos, tentava-se acabar, com a figura do indigente, aquele paciente que não podia arcar com o seu tratamento ou não possuía nenhum plano de saúde; essa massa imensa da população foi, ao longo dos séculos, atendida pelos hospitais filantrópicos, à frente as Santas Casas de Misericórdia. Os recursos para esse atendimento universalizado viriam dos governos federal, estaduais e municipais e, no papel, estaria tudo resolvido. A prática, contudo, veio mostrar que nem sempre isso ocorre, com as autoridades de saúde de Brasília referindo que os Estados e Municípios não estão cumprindo o que está escrito na constituição; por outro lado, os Estados e Municípios dizem que não têm os recursos suficientes e acabam todos estendendo o chapéu para o patrão maior, o governo federal. Nessa briga de gigantes, o prejuízo resvala, como sempre acontece, para os pobres, aqueles que não têm plano de saúde e passam a depender, inteiramente, da boa vontade dos senhores dirigentes e políticos; e o que se vê, quase que diariamente, no noticiário da televisão? Pacientes penando em macas e cadeiras, na emergência dos hospitais e postos de saúde, aguardando por um leito que, muita vezes, acaba não aparecendo, com o paciente melhorando, ou morrendo, em busca de um atendimento adequado. Veja-se o número alto de pacientes idosos que necessitam de cirurgia prostática, mas estão, muitos já há alguns meses, trocando o cateter vesical (sonda) a cada mês, já que não conseguiram submeter-se a uma cirurgia.

Com a pediatria, aqui em Itabuna, está ocorrendo outro fato terrível com as mães carregando seus filhos doentes em busca de um efetivo atendimento, tendo que pagar táxi, quando no centro da cidade encontra-se o CEMEPI, antigo IPEPI, primeiro e único hospital inteiramente dedicado à pediatria e que funciona desde 1959. O hospital Manoel Novaes, da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, desativou a emergência de pediatria do SUS por não aguentar o prejuízo mensal que está inviabilizando a instituição; o CEMEPI também vinha sofrendo prejuízo, como todo e qualquer hospital que tenha a sua renda oriunda basicamente do SUS; tem faltado, como dissemos acima, a participação tripartite, entre o federal, o estadual e o municipal e, no meio dessa barafunda, sofre o paciente.

A assistência médica-hospitalar, à mercê do progresso da tecnologia, está se tornando, cada dia mais complexa e, o que é pior, mais cara; os recursos alocados para a saúde têm que ser devidamente bem empregados, longe da corrupção, praga que nos atacou, principalmente após 2003, como fartamente noticiado e, também, bem gerenciados.

Esse problema, por tratar do bem mais precioso que um ser vivo tem, a sua saúde, não é para ser tratado, somente, pelos governantes, mas a comunidade também deve se inteirar e participar ativamente, opinando, cobrando e, principalmente, fiscalizando, já que, infelizmente, como parece acontecer, os órgãos que deveriam fiscalizar e punir os que atentam contra a saúde pública, não estão exercendo completamente o seu dever.

Enquanto esse quadro terrível não melhora, os pacientes que precisam de cirurgia vão continuar em filas intermináveis e as mães vão continuar perambulando pelas ruas da cidade à procura de um atendimento para as suas crianças, já que os postos de saúde, também por suas precariedades, não dão conta no número de atendimento. Enquanto isso, vamos apelar para Deus.