Era difícil imaginar, na infância e na adolescência, quando o nosso país era relativamente tranquilo, que, no futuro, teríamos que lidar com cenas que víamos em outros países e que chegavam até nós, pelo rádio, pelos jornais e, principalmente, pelos filmes americanos, mostrando cenas de assalto, sequestro e outras mazelas perpetradas pelo ser humano. Cidades tranquilas, noticiário policial mais voltado para furtos e roubos, vez por outra um crime de morte. Até que o cenário foi se modificando, o êxodo rural mudou a feição das cidades e vilas, os costumes foram se alterando, o tóxico passou a comparecer e eis que chegamos ao estado atual, com a violência tomando conta, praticamente, de todo o país e causando medo.
Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), juntamente com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgaram os dados da última pesquisa, chamada Atlas da Violência 2019, abordando o período compreendido entre 2007 e 2017, principalmente neste último ano, e o resultado é bastante desanimador. Não vamos abusar da paciência do (a) leitor (a) com muitos números, mas apenas, alguns comparativos, mostrando o avanço da violência. Veja-se a taxa de homicídio no mundo, que é de 6,9/ 100 mil, ou seja, há 6,9 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Pois bem, no nosso amado Brasil, a taxa, no mesmo período, ou seja, 2017, foi de 26,74/100 mil correspondendo a 55.574 assassinatos; ainda nesse período, 4.935 mulheres foram assassinadas e, nos últimos três anos, o numero de mulheres vitimas de homicídio alcança 12 mil.
A pesquisa também mostrou as cidades mais violentes, sendo a campeã a cidade de Maracanaú, no Ceará e, dentre as 10 primeiras, a nossa Bahia comparece com Simões Filho, Porto Seguro e Camaçari. A maioria das cidades que ocupam os primeiros lugares está nas regiões norte e nordeste.
A violência não causa impacto, apenas, em perdas humanas, o que já seria suficiente para lamentarmos tal situação, mas também causa um pesado ônus econômico sobre toda a sociedade, já que consome cerca de 5,9 % do PIB, o que é muito dinheiro que poderia ser alocado em outras áreas.
Um dado também preocupante e que exerce alguma influência na gênese da violência é que 23 % dos jovens não trabalham nem estudam e, esses jovens, infelizmente, são facilmente atraídos para o tóxico e para o crime.
A violência não se exterioriza, apenas, na interrupção da vida, o que já seria o suficiente para se lamentar, mas aparece com outras conotações, como a fome, a falta de moradia, o difícil acesso a água de boa qualidade e aos serviços de saneamento básico; à falta de emprego; também vemos a violência aplicada contra seres indefesos como crianças e idosos e, também, aos animais. Recentemente, um concorrido programa da TV mostrou a matança da onça pintada, talvez o felino mais bonito e que se encontra em extinção, mas mesmo assim, não escapa à sanha perversa de indivíduos que enxovalham a espécie humana.
Está difícil diminuir esse quadro de violência em nosso país, contudo, não é motivo para desanimar; a Coréia do Sul conseguiu uma transformação impensável concentrando todos os seus recursos em uma educação abrangente e integral e, hoje, colhe os frutos desse esforço; por que não podemos fazer o mesmo?