ARTIGO DE JOÃO OTÁVIO MACÊDO – O 31 DE MARÇO


"Os militares ficaram no poder durante 21 anos, com a supressão de alguns direitos individuais e coletivos, mas fizeram muito pelo nosso país"


No último domingo, 31 de março, completaram-se 55 anos da deflagração do movimento que tirou do poder o presidente João Goulart, iniciando-se um período ditatorial que durou 21 anos. Como tudo que acontece na vida e, principalmente, na política, não há unanimidade no julgamento dos fatos, encontrando-se fiéis defensores e, do outro lado, ferozes críticos e inimigos de tudo que ocorreu.

Não preciso consultar os livros de história nem o noticiário político da época, nos jornais e revistas, para fazer, hoje, uma apreciação daquela época, também difícil, da história do país. Encontrava-me como universitário, em Salvador, dentro daquela efervescência política e estudantil e participei das passeatas contra o movimento que derrubou o gaúcho João Goulart do poder; lembro-me bem, que saímos do Terreiro de Jesus, indo em direção à Praça Municipal, repetindo o refrão “Estudantes Contra o Golpe” e, ao chegarmos em frente ao prédio que abrigava a Prefeitura de Salvador, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores, de suas escadas apareceu o prefeito Virgildásio Sena, que também engrossou o coro “Estudantes Contra o Golpe”; as manifestações estouravam em todo o país, algumas  a favor, outras contra o movimento militar, que acabou saindo vitorioso. Segundo vi e ouvi, de uma entrevista do Leonel Brizola, anos depois, o João Goulart, que era seu cunhado e, também, gaúcho, não quis ouvir as suas ponderações, recusando-se a nomear ele, Brizola, como Ministro da Justiça e o General Ladário Pereira Teles como Ministro da Guerra, antiga denominação do hoje Ministério do Exército. E assim caiu João Goulart e todo o seu séquito. Seguiu-se um período ditatorial, sem eleições diretas para cargos executivos, mas com o Congresso funcionando sob os olhares atentos do Executivo.

Assentada a poeira na pátina do tempo e verificando os fatos pretéritos com um olhar crítico e sem paixões, vemos que aquele movimento teria que surgir, pela desordem que grassava no país, principalmente no estamento militar, causando um grande temor e desconfiança nas classes conservadoras. Foi uma ruptura na democracia? Foi; poderia ter sido diferente? Não sei.

Os militares ficaram no poder durante 21 anos, com a supressão de alguns direitos individuais e coletivos, mas fizeram muito pelo nosso país; foi uma ditadura bem diferente daquela implantada por Getulio Vargas em 1937, que durou 8 anos, com o seu “Estado Novo”; nesse movimento iniciado em 1964, havia a rotatividade dos generais-presidentes e uma oposição que, consentida ou não, apontava os erros de então e cobrava o retorno ao pleno regime democrático.

Em outras ocasiões já escrevi sobre esse período da nossa história e nunca deixei de salientar que a tortura contra presos políticos talvez tenha sido a maior nódoa dessa fase ditatorial, mesmo sabendo-se que alguns desses presos políticos também tenham cometido crime como assalto a mão armada e, mesmo, homicídio.

O 31 de março de 1964 foi um marco na história recente do Brasil e deve ser ensinado às novas gerações mostrando as virtudes e os defeitos que ocorreram, como tudo na vida. Já que estamos, felizmente, em plena democracia, os que aplaudem o movimento de 31 de março de 1964 têm o mesmo direito de relembrá-lo, como aqueles que o criticam acidamente. Deixemos que cada um analise calmamente e tire as suas conclusões.