O povo brasileiro, principalmente o nordestino, sonha com a chegada do mês de junho, quando ocorrem as comemorações dos três santos que constituem a maior devoção da gente desse pedaço do Brasil. Santo Antônio, São João e São Pedro são venerados e queridos já há muitos anos, praticamente desde a descoberta do Brasil, vez que foram os portugueses que para aqui trouxeram a devoção a esses importantes santos da igreja católica e, ao lado da parte religiosa, uma série de eventos que hoje encontram-se inseridos no calendário turístico dos estados nordestinos quando, também, ocorrem festividades em praticamente todos os pontos do país, sem a grandeza do que ocorre por estas bandas. Em muitas cidades nordestinas, a exemplo de Caruaru em Pernambuco e, Campina Grande, na Paraíba, os festejos ocorrem durante todo o mês de junho, envolvendo a sua população fixa e uma população flutuante, que aumenta a cada ano, movimentando fabulosa fortuna que acaba revertendo em melhores condições de vida para os moradores dessas localidades.
Os festejos juninos, com ápice nos dias 23 e 24, dedicados a São João, atraem milhares de pessoas, em busca da religiosidade, mas sem esquecer o lado profano, num sincretismo saudável e a cada ano mais comemorado. Os trabalhos e as preparações para essas efemérides começam muito tempo antes com os envolvidos esmerando-se em fazer bem feito e que nada venha a faltar quando chegarem datas tão ansiosamente esperadas.
É a preparação da área onde barracas e pistas de dança são armadas e onde, também, será erguida a imponente fogueira, símbolo maior da noite de São João. Os fogos de artifício constituem um capítulo à parte, atraindo a atenção de adultos, jovens e crianças; as comidas e as bebidas espelham toda a riqueza e diversidade do que se encontra no nosso nordeste, bem como as atrações musicais, cujos ritmos aqui nascidos espalharam-se pelo país e pelos quatro cantos da terra.
Mas, infelizmente, neste ano tudo está sendo diferente; o mundo não esperava e não estava preparado para o ataque desse terrível coronavírus que, como já disse em crônicas recentes, colocou o “mundo de joelhos” e continua espalhando o terror por onde passa. Morbidade e mortalidade constituem a face perversa desse ser invisível, que nem célula é, mas tem um poder destruidor muito maior que o colosso bélico dos Estados Unidos.
O vírus já mexeu com a economia mundial, já mudou os costumes, já podou muitas festividades e, entre estas, as nossas festas juninas; a teimosia e a criatividade do povo brasileiro certamente não deixarão passar em “brancas nuvens” datas tão importantes no nosso calendário, mas que não terão, evidentemente, o brilho e animação que sempre tiveram. Há o cuidado para evitar aglomerações, justamente para dificultar a propagação desse maléfico vírus e, já aí, não haverá clima para a apresentação das sempre animadas quadrilhas.
Cada um de nós procurará, na sua casa, no seu ambiente de trabalho, na comunidade em que vive, comemorar a data com os cuidados necessários, atendendo às recomendações das autoridades sanitárias até enxotarmos, para bem longe, esse microscópico e terrível inimigo. Esperamos que em junho do próximo ano já estejamos completamente a salvo, quando poderemos retornar às nossas festas juninas em toda a sua plenitude.