Artigo de João Otávio Macedo – O JORNALISTA E A ESCRAVIDÃO


“para alguns analistas, essa desigualdade econômica e social que encontramos ainda hoje é fruto da escravidão”


O jornalista Laurentino Gomes tem se aventurado pelos meandros da história e publicou três interessantes e importantes livros sobre a história do Brasil sendo o primeiro, 1808, mostrando a história de D. João VI que, com os demais membros da família real portuguesa, deixou Portugal fugindo das tropas de Napoleão, instalando a corte no jovem país, o nosso Brasil, implementando medidas importantes que mudaram a feição da então colônia portuguesa; o segundo livro do Laurentino foi 1822, tratando da ação de D. Pedro I e o seu famoso grito do Ipiranga, o 7 de setembro de 1822 que libertou o Brasil dos grilhões das cortes portuguesas, criando o Império chefiado por um monarca que durou até 1889, justamente o assunto de seu terceiro livro, tratando especificamente da Proclamação da República e dos resultados dessa ação militar, que foi comandada pelo general Deodoro da Fonseca.

No momento presente, o jornalista e hoje historiador Laurentino Gomes está abordando a Escravidão, tendo lançado o primeiro livro de uma trilogia que esmiúça os fatos mais importantes dessa página obscura da nossa história.

No último dia 25 do corrente, no programa Roda Viva, apresentado pela TV Cultura, o entrevistado foi justamente o jornalista citado, que se submeteu às perguntas e análises de um corpo de entrevistadores, discorrendo com muita precisão sobre essa nódoa da civilização que foi a escravidão. Para tanto, empreendeu algumas viagens à África, consultando, também, bibliotecas espalhadas por vários países e coletando importante material que propiciou a realização desse trabalho longo, no formato de um livro, que pode ser consultado por qualquer pessoa que se interesse pelo tema. O primeiro tomo tem, justamente, o título ”Escravidão”, mostrando que cerca de 12,5 milhões de seres humanos foram trazidos, como escravos, do velho continente africano, para as Américas, aí incluído o nosso país; calcula-se que cerca de 10,7 milhões tenham conseguido chegar ao Brasil e a outras nações que adotavam a escravidão; muitos escravos morriam nos miseráveis “navios negreiros”, ou pelos maus-tratos e suplícios ou por doenças, principalmente as do aparelho digestivo, numa época em que as enfermidades não eram bem conhecidas e não havia os cuidados necessários com a higiene, com a água e com o preparo dos alimentos; os mortos eram lançados ao oceano e isso, segundo o autor, acabou criando, também, uma rota para os tubarões, atrás dos cadáveres jogados pelos navios; o nosso vate maior Castro Alves registrou bem, em seus poemas, o sofrimento desses homens, mulheres e crianças, que eram atirados, como porcos, nos porões imundos dessas embarcações malditas.

O jornalista-escritor citado afirma que “a escravidão foi a maior tragédia na história do Brasil”; e o nosso país foi um dos últimos a extinguir a escravidão, o que só ocorreu com a famosa Lei Áurea, sancionada pela princesa Isabel, a 13 de maio de 1888.

A abolição da escravatura determinou inúmeras consequências na nossa história e, para alguns analistas, essa desigualdade econômica e social que encontramos ainda hoje é fruto da escravidão, pois os escravos libertos, deixando as senzalas e as fazendas, onde eram submetidos a um trabalho duro, sob a chibata e os castigos do feitor, passaram a perambular pelas cidades e vilas, sem qualquer orientação e amparo e, dessa época até o presente, isso concorreu para aumentar a desigualdade e a distribuição de renda; são fatos da história, com muito ainda a ser explicado e que deve ser enfrentado pelos governos e por toda a sociedade, visando diminuir esse fosso perverso que separa filhos de uma pátria que se diz livre e rica.