Atravessando o Cachoeira 



Nos últimos anos, talvez por força mesmo do envelhecimento, à medida que vamos nos aproximando das comemorações de mais um aniversário da emancipação política de nosso município, que faço uma viagem ao passado, relembro os fatos da infância e da adolescência, vividos numa Itabuna bem menor e mais aconchegante, sem essa balbúrdia do trânsito, sem a violência que nos assusta e nos prende em casa e quando conhecíamos boa parte das pessoas que moravam no centro da cidade. É a Itabuna que não volta mais, engolfada nas águas do progresso, com uma população que aumenta a cada dia, com uma juventude ativa que reclama os seus direitos e, logo, logo mais, estará à procura de uma colocação no mercado de trabalho.

Leio nos jornais que o poder público municipal irá construir uma passarela sobre o nosso Cachoeira, ligando o bairro Góes Calmon e adjacências, ao centro da cidade, medida salutar que premiará o pedestre, tão sacrificado pela onipresença do todo poderoso veículo motorizado, agora secundado pelas não menos agressivas e perigosas motocicletas, conduzidas, na maioria das vezes, por apressados e não muito afeitos ao cumprimento das leis do trânsito e das boas maneiras .O pedestre já não dispõe de boas calçadas (passeios), com desníveis e buracos que constituem um perigo para pessoas idosas.

Por muitos anos convivemos com uma única ponte para veículos, aquela que liga o bairro da Conceição à antiga Taboquinhas, inaugurada pelo governador da Bahia Francisco Marques de Góes Calmon, no dia 01 de março de 1928, justamente para possibilitar a ligação da cidade com a vila de Macuco. Anos depois, foi construída a “ponte dos Velhacos”, apenas para pedestres e que se encontra submersa pelas águas do Cachoeira desde quando foi construída a barragem. Atualmente, a nossa primeira ponte, está voltada para os pedestres.

Com o novo traçado da estrada para Macuco, hoje Buerarema, e o crescimento do Banco Raso e do “Fuminho”, foi construída, em 1947, a ponte Antônio Lacerda, a segunda ponte para veículos erguida na cidade. Na década de sessenta, por força do surgimento do bairro Góes Calmon, edificou-se a ponta do Marabá, propiciando um desafogo no crescente movimento de veículos na cidade. No início da década de setenta, em função da rodovia BR-101, uma nova ponte surgiu, logo após o bairro da Bananeira; nos anos oitenta, em virtude do surgimento de novos núcleos populacionais que apareciam após os bairros da Conceição e da Vila Zara, foi erguida a ponte Calixto Midlej Filho, a quinta da cidade, num “design” mais bonito e mais adequado às cheias do Cachoeira, hoje não intensas quanto antigamente.

As pontes dão um novo brilho à cidade e rios famosos como o Sena, o Tejo, o Danúbio, o Tâmisa e tantos outros, são emoldurados por pontes que estão envolvidas nas histórias de várias cidades, muito conhecidas, visitadas e apreciadas.

E assim vamos atravessando o Cachoeira; as pontes e passarelas são uma exigência do progresso, do qual não podemos fugir; é a dinâmica da vida.

 

João Otavio Macedo.