Bonzinho demais… ansioso demais também


"Pavor de ser visto como egoísta, desatento, preguiçoso, ingrato, desleal"


Olhe, meu amado leitor… talvez você ainda não tenha se dado conta, mas existe uma armadilha sutil, perigosa e sorrateira na qual muita gente está presa sem nem perceber: o esforço contínuo de parecer bonzinho.
É isso mesmo. Aquela tendência de estar sempre se explicando, se justificando, querendo parecer educado o tempo inteiro, pedindo desculpas até por respirar mais alto. Um padrão de comportamento que parece, à primeira vista, respeito, cuidado, empatia. Mas, no fundo – e aqui entre nós – é medo. Um medo disfarçado de gentileza.
Você levanta da mesa e avisa onde vai, mesmo que ninguém tenha perguntado. Manda uma mensagem enorme explicando porque demorou a responder, mesmo quando o outro só mandou um “Oi”. Pede desculpas por não ter respondido “na hora”, por estar cansado, por dizer “não”. Tudo isso, não por educação, mas para garantir – ainda que inconscientemente – que ninguém pense mal de você.
A verdade é que há um pânico instalado aí dentro. Pavor de ser visto como egoísta, desatento, preguiçoso, ingrato, desleal. Medo de não ser suficiente. Medo de não caber. Medo de decepcionar.
E quando o medo assume o volante, meu amado, a vida deixa de ser vivida e passa a ser representada. Como numa peça de teatro, você atua o tempo todo, torcendo para ser aceito, bem visto, valorizado. Vive num palco. E cansa, viu? Cansa demais. Porque viver representando exige uma energia imensa.
Mas quem amadurece entende que não precisa se justificar o tempo todo. Entende que ser gentil não é se autoanular. Que não é preciso se despir de si mesmo para caber na vida dos outros. Amadurecer é aprender a dizer: “hoje não posso”, “não quero agora”, “fica pra próxima”, sem precisar escrever um testamento emocional para validar o que sente.
E mais: é entender que o outro não tem – e nem quer ter – controle sobre sua história. Quem te ama de verdade não precisa de explicações infindáveis para te aceitar. E quem precisa… talvez não ame você, mas o personagem que você interpreta.
Repare bem, essa tentativa constante de parecer inofensivo é, na verdade, uma grande prisão. Um jeito sofisticado de seguir se colocando pequeno. De seguir achando que precisa de autorização pra existir.
E, meu amado ser que lê essas linhas aí do outro lado, se libertar disso é um processo. Mas ele começa com um passo simples e poderoso: falar menos. Dizer apenas o necessário. Parar de se justificar por existir e ter vontade própria. E, principalmente, parar de tentar convencer o mundo de que você é do bem. Você sabe que é. E basta.
Chega de textão.
Chega de textão.
Chega de textão.

Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito