Por Ramiro Aquino
Em teatro costuma-se usar a expressão “sair de cena” quando um ator deixa o palco.
Na noite de ontem, 29 de dezembro, fomos todos, ligados ao teatro ou não, mas grapiúnas como ela, surpreendidos com o anúncio da morte da atriz Candinha Dória.
Maria Cândida Pereira, que mais tarde recebeu o “Dória” do marido Major Carlos da Silva Dória, falecido em 1966, foi uma figura incomum, e para carregar nos sinônimos, ímpar e rara, no seio da sociedade grapiúna. Fina, atuante, participativa, delicada, dedicada às coisas que fazia, sempre com um raro talento.
Candinha tinha 91 anos, em corpo de 70, quando um derrame cerebral a tirou do palco da vida.
Recentemente homenageada pela TV Cabrália, junto com outras personalidades, disse as palavras mais bonitas daquela noite e, mais tarde, comentamos com ela e com outros amigos, que já preparávamos a comemoração dos seus 100 anos.
Oh! Meu Deus, por quê?
Longe de nós discordar dos seus desígnios. Até porque Candinha teve uma vida plena. Mas, aqui pra nós, com toda a consideração e respeito que Lhe devemos, parece ter havido uma falha técnica na paginação da vida de Candinha, que ainda tinha muitos capítulos a escrever, muitos atos a representar. Candinha não era para ir agora, Senhor, tinha gente menos importante na fila.
Itabunense, filha de grapiúnas pioneiros, tinha ainda muita coisa para oferecer aos filhos Nêda, Ana e Carlinhos. Aos netos Claudia, Carla, Alejandro, Jorge, Guto, Gabriela, Ana Carolina, Silvia, Carlos Dória Neto e Beto Basílio e aos bisnetos Rafael, Reinaldinho, Alessandra e Ana Cândida.
Ativa participante de nossa vida cultural, Candinha foi até pouco tempo diretora do nosso Centro de Cultura Adonias Filho, construiu teatro, participava da obra de recuperação do Teatro Amélia Amado, foi homenageada, imaginem, pela surpreendente Lojas Americanas, quando a grande rede de magazines abriu suas portas em Itabuna, só para citar algumas passagens de sua vida de brilho e de luz.
Fôssemos uma cidade que privilegiasse mais a cultura, o teatro, Candinha ainda estaria na ativa, exuberante, contracenando com os nossos novos atores e, com certeza, dando um banho de interpretação.
No bom lugar onde agora está (as notícias dão conta de que foi recebida com festas), agora contracena, em ambiente celestial, com outros monstros sagrados do teatro que também já se foram.
O mundo do teatro está de luto.
Itabuna está de luto.
Nós todos estamos de luto.
Mas, nosso consolo, é que Candinha não morreu, porque um artista não morre.
Candinha apenas saiu de cena.
(Texto escrito pelo jornalista Ramiro Aquino e interpretado pelo autor no Programa Ponto 4, da Rádio Difusora de Itabuna, em 30/12/2005 e na Missa de 7º Dia da atriz, na Catedral de São José, em 04/01/2006)