Estamos vivendo uma era estranha.
É, isso mesmo, estranha. A gente anda correndo para chegar em lugar nenhum, olha mais para uma tela de celular do que para as janelas da vida, tudo tem que ser rápido, mais rápido que a velocidade da luz. Mandamos mensagens daqui para o Japão na mesma velocidade que piscamos os olhos e, se em algum momento, o recebedor da mensagem não responder na piscada seguinte, valei-me, é o fim dos tempos!
É produtividade em alta, não pode parar, não pode errar, não pode ter medo, não pode se divertir. É o tempo todo conectado mostrando sentir o que não sente ou que não sente o que está sentindo; fazendo cinco coisas ao mesmo tempo sem estar presente em coisa nenhuma. E, nesse meio, a ansiedade cresce, o vazio interno se expande, as fugas se acentuam e os pensamentos estão cada vez mais acelerados.
A grande questão, meu querido leitor, é que a gente não funciona na mesma velocidade que toda essa conexão tecnológica. Somos feitos, essencialmente, para o contato físico, para a presença, as trocas emocionais, a convivência, os grupos. De verdade. Não os grupos de WhatsApp. Nosso corpo, nossas emoções, nossos pensamentos não funcionam da mesma forma que os aplicativos e nem na mesma instantaneidade plástica das redes. Parece óbvio isso que eu estou falando e, aqui escrevendo, nem eu mesma acredito que estou escrevendo isso; mas chegamos ao ponto de esquecer que nós somos feitos de carne e osso e sensações e desejos e emoções que precisam de tempo para serem assimilados. Quando são!
Parece que a gente esqueceu o valor da espera. A gente esqueceu que existe o tempo entre a plantação da semente e a colheita do fruto, sabe? Não sabemos mais esperar as coisas acontecerem: queremos controlar e, como não podemos controlar tudo, nos angustiamos, a cabeça enche de bobagem gritando besteira e ficamos cada vez mais ansiosos. A bola de neve gira loucamente! Porque à medida que a ansiedade cresce, menos conseguimos ter controle, já que saímos da zona do possível para imaginar o inimaginável e – adivinha – mais angustiados ficamos e mais ansiedade para dentro.
A espera. O vazio. O não fazer nada. O espaço. Tudo isso está cada vez menos valorizado, se perde tempo.
Estamos nos perdendo nesse vazio de uma vida ocupada demais. A necessidade da rapidez, da instantaneidade nos fez esquecer a importância de estar, de apreciar, de entregar, de confiar.
Tudo precisa ter uma receita de bolo milimetricamente calculada, queremos o mais lindo bolo do mundo, mas não temos paciência para esperar a massa descansar, o bolo assar e muito menos esfriar. E a gente fica como, no meio disso tudo?
Qual foi a última vez que você simplesmente se permitiu a espera? Mas a espera serena, confiante, consciente?
Desaprendemos a esperar.
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* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica.
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