Coluna de Mariana Benedito – Acostume-se!


“tudo que nos acontece neste planeta chamado Terra é um professor, um guia, um norteador”


Ontem eu vi uma frase na internet, postada por Flávia Melissa – ela tem um trabalho lindo e muito profundo sobre autoconhecimento e inteligência emocional, vale muito a pena dar uma conferida; dica das boas! – que dizia: nem todo mundo vai gostar de você. Você não é um sorvete. Simplória, mas altamente didática e verdadeira.

Quando a gente inicia na caminhada do autoconhecimento, da terapia, da observação do que se passa no lugar que a gente mais frequenta, mas pouco conhece, nós mesmos, uma das primeiras coisas que a gente ouve – e ouve bastante, e confunde bastante idem – é sermos a nossa melhor versão. Muito válido e muito importante, meu caro leitor! Ser a nossa melhor versão é ter consciência de que temos muitos pontos passíveis de ajustes, que podemos conviver de forma mais presente e harmônica com o outro, a partir do ponto que observamos todo mundo que nos cerca como espelhos, professores, guias que nos apontam o caminho, e não levamos tudo para o lado pessoal, da briga, da confronto, da defesa o tempo inteiro.

Ser a nossa melhor versão é ganhar capacidades e habilidades para perceber nossa reação mais instintiva quando o calo aperta, quando algo incomoda; é colocar o pé no freio e não ser mais guiado pela cegueira, é conduzir a vida no câmbio manual com consciência, aproveitando o caminho, observando o mundo que nos cerca, as pessoas ao nosso redor. Ser a nossa melhor versão é olhar para o outro com o entendimento de que ele também está na mesma jornada que a gente: tem medos, dores, preocupações, angústias, sonhos; o que pode diferenciar é que você, talvez, esteja vendo com um pouco mais de clareza que tudo que nos acontece, tudo que nos é dito vem e chega para nós para nos engrandecer, para nos fazer aprender. E voltamos ao mesmo ponto, porque tudo que nos acontece neste planeta chamado Terra é um professor, um guia, um norteador.

Mas, amado ser que me lê aí do outro lado, nós somos humanos. E perfeitamente imperfeitos. Ainda estamos tentando entender essa loucura toda que nos cerca, tentando entender o nosso lugar no meio disso tudo e, como somos seres que precisam viver em grupos, ser aceitos, amados, acolhidos, pertencentes, a gente valoriza demais a visão que o outro tem da gente, de que forma ele nos enxerga, qual a imagem que estamos construindo. E, sendo humanos, queremos ter a melhor imagem possível!

Queremos que o outro nos veja como uma pessoa inteligente, profissionalmente bem-sucedida, realizada, com uma família linda que não possui nenhuma questão vincular ou relacional, espiritualizada, que está buscando o quê? A melhor versão.

E aí caímos, usando a frase que abrimos esta coluna, na errônea ideia de que somos sorvetes e precisamos agradar todo mundo. Não, nós não vamos agradar todo mundo. Acostume-se! Ainda mais quando a gente começa a trilhar a jornada do autoconhecimento, repare que paradoxo! Porque a gente passa a priorizar nossa saúde emocional, a nos distanciar – com amorosidade, entendimento e consciência – de pessoas que nos são tóxicas, começamos a dizer não, começamos a ver mais claramente o que gostamos, o que aceitamos, firmamos mais os nossos valores. E isso desagrada bastante, porque a gente não está acostumado a ouvir “não!”.

Mas, meu queridíssimo, nos possibilita também entender que cada um tem seu tempo de despertar, respeitando este tempo, entendendo que cada ser é um universo diferente e que, como diz Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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