Nas conversas rotineiras que tenho com conhecidos e amigos, para todo mundo que me pergunta como estou, a resposta tem sido: vivendo um dia de cada vez para não surtar o cabeção. É claro que a pandemia vai passar e vamos voltar a nos encontrar pessoalmente numa boa aglomeração com abraços e beijos, trabalhar com uma nova visão de coletivo e propósito, sair de casa com o pleno direito de ir e vir para onde quiser e tiver vontade. É claro que tudo isso vai deixar marcas em todos nós. É claro que tudo isso vai passar e, independente do momento que você esteja vivenciando por aí, meu amado leitor, sempre existe uma oportunidade para se descobrir, reinventar, recomeçar, renascer e abrir espaço para experimentar novas rotas.
É uma fase. Mas eu confesso aqui para você, meu amado ser, que ficar colocando minha visão e cabeça lá na frente, querendo já avistar o final de tudo isso estava me deixando profundamente ansiosa; porque por mais que eu buscasse focar no final, mais esse final se distanciava de mim. E aí eu me sentia irritada e culpada por também não estar vivendo o presente. O aqui. O agora. O que tenho de fato. Dados e fatos. A realidade.
Trazer a cabeça para o agora e lidar com a realidade que é e está aqui. Ficar de frente com o que acontece dentro e fora de mim. Repare, meu querido leitor, se quando a gente fica querendo enxergar e viver o que ainda está mais adiante é porque não estamos abertos para olhar o que está agora. Faz sentido para você? Pare e reflita. Sinta aí dentro de você. E nesse bolo todo de ficar com o agora, estão envolvidos os incômodos, desconfortos, inseguranças, medos, incertezas, percepção de que não temos todo esse controle que a gente acha que tem. Estar no agora nos possibilita enxergar as coisas pela perspectiva da verdade. Ver o que é realmente importante e o que não é.
Olhar para o agora e viver um dia de cada vez nos ajuda a estabelecer prioridades. É tirar o peso das cobranças internas para a produtividade todos os dias, para fazer atividade física em casa todos os dias, para manter a casa impecavelmente limpa e arrumada. Possibilita dizer “nãos” necessários à manutenção da nossa saúde mental e emocional.
Estamos todos fazendo o melhor possível com as ferramentas que conhecemos e temos à disposição neste momento de pandemia. Viver um dia de cada vez nos proporciona entender que o agora é tudo que temos. Pode parecer clichê, mas é a mais pura verdade: mesmo que a gente queira chegar a um determinado objetivo, são os passos que damos agora que vão, um após o outro, nos levando em direção a, é o que nos mantém caminhando. E todo caminho possui curvas, pausas; não é feito somente de linhas retas.
Viver cada dia como eterno e único e último, sem soar pessimista e sim realista porque, de fato, a vida é limitada e a gente se esquece disso. Querer viver uma vida lá na frente sem viver a que está aqui e agora é totalmente surreal, você percebe? E fugir da verdade de que nem nós e nem quem amamos estarão aqui ade aeternum é viver numa fantasia que nos distancia de amar agora, de fazer agora, de viver agora. Nós não temos todo o tempo do mundo.
Viver um dia de cada vez me faz enxergar que quem sou agora é suficiente – o que não significa acomodar – mas sem as cobranças do que deveria ser, fazer ou estar, ainda mais nesse período tão inesperado e maluco e estranho que estamos vivendo.
É aqui que eu sou e estou.
Um dia de cada vez.
Vivendo o hoje.
É como diz uma das minhas músicas favoritas, “Pausa”, de Pedro Pondé: seja presente, esteja presente, olhe o presente. Calma, pausa para recomeçar mantendo a cabeça no lugar, você só precisa respirar.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
E-mail: [email protected]