A flor de lótus é de uma beleza única. Nativa da Ásia, vive em águas de pouca profundidade e sua característica principal é manter suas raízes no fundo lodoso, na lama, e desabrochar com as mais lindas pétalas acima do espelho d’agua. Tudo isso traz uma grande simbologia a esta flor que eu, particularmente, meu amado leitor, tenho muito carinho e me inspiro.
Tem uma frase de Osho, um famoso mestre indiano que eu cito bastante aqui – você, que me lê aí do outro lado e me acompanha ao longo deste um ano de coluna recém-completado, sabe bem – que diz para vivermos como o lótus: na água, porém absolutamente intocados por ela. E uma das coisas mais difíceis é estar neste planeta chamado Terra sem se deixar levar por ele.
A rotina nos consome. As notícias são, em sua grande maioria, desanimadoras. A mente grita mil, trezentas e cinco vezes que as coisas não darão certo, que está bom demais para ser verdade, que não somos merecedores e nem bons o suficiente e que devemos agradar gregos e troianos para sermos amados e blá blá blá enredo de novela das oito. São tempos difíceis para sonhadores, já nos disse Amélie Poulain…
Como se não bastasse todo esse furdunço interno, precisamos seguir na insistência de continuar acreditando em meio à descrença, de seguir o coração enquanto a correnteza leva em direção à razão cega e comandada pelo ego, manter o brilho enquanto teimam em nos ofuscar. É um desgaste imenso de energia estar no mundo sem se deixar contaminar por ele, sem se permitir endurecer diante das injustiças, sem fechar o coração diante da indiferença, sem odiar diante da falta de amor, sem perder a ternura diante da amargura alheia. Estar no mundo sem se deixar levar por ele é estar fisicamente num lugar sem perder o entendimento de nossa essência, a conexão com o que realmente importa.
E eu, humildemente, não vejo outra saída a não ser silenciar. Internamente. A mente. Porque tudo que a gente alimenta como problema, obstáculo, dificuldade é, na maioria absurda das vezes – perceba! – construção da nossa mente e as sombras de nossos medos. Raras vezes nossa “prudência e cautela” têm fundamento real, plausível. Ou se viveu antes uma situação parecida e a gente já coloca a nova no mesmo balaio de que não vai dar certo, ou a gente tem medo mesmo que dê certo, porque nós estamos acostumados com a reclamação e achamos confortável usá-la de muleta.
O grande desafio é buscar transpor tudo isso, sabe? Bem como a flor de lótus, manter as raízes nessa loucura toda que está todo mundo tentando entender e viver da melhor maneira, e buscar – com o crescimento e fortalecimento do caule e pétalas – o ar fresco, a luz do sol, a pureza, florescer lindamente com humildade, coragem, fé, apesar de tudo.
Florescer, apesar de tudo.
Buscar o melhor que podemos ser, apesar de tudo.
Que a gente possa viver isso todos os dias, desabrochar para o que somos. Despertar para quem somos.
Sem lama, sem lótus!
*Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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